O dólar começou o dia com leve queda em relação ao real, enquanto os investidores esperam pelo discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, durante o simpósio econômico em Jackson Hole. A tensão comercial entre Brasil e Estados Unidos também chama atenção no mercado.
Por volta das 9h04, a moeda americana registrava uma queda de 0,22%, sendo cotada a R$ 5,465. Na quinta-feira, o dólar subiu ligeiramente, fechando em R$ 5,477, enquanto a Bolsa teve queda de 0,11%, ficando em 134.510 pontos.
O foco principal está no simpósio do Fed, especialmente no discurso final de Powell como presidente do banco central, cujo mandato termina em maio.
Nos últimos anos, Powell tem usado esse evento para indicar a direção da política monetária americana. Em 2024, por exemplo, ele anunciou que era hora de reduzir os juros, o que levou a uma desvalorização do dólar ao redor do mundo.
Este ano, a expectativa é similar. Após dados recentes de emprego e inflação abaixo do esperado, o mercado especula que o Fed pode reduzir os juros já na reunião de setembro.
Operadores colocam cerca de 75% de chance para um corte de 0,25 ponto percentual, segundo a ferramenta FedWatch, enquanto 25% acreditam que as taxas permanecerão entre 4,25% e 4,5%.
Entretanto, essa probabilidade tem diminuído nos últimos dias após a publicação da ata da última reunião do Fed. O documento mostrou que a maioria dos membros prefere manter os juros estáveis.
Alguns diretores, como Michelle Bowman e Christopher Waller, votaram a favor de corte para proteger o mercado de trabalho de uma desaceleração maior, mas a preocupação com uma alta inflacionária devido às tarifas do presidente Donald Trump puxou a decisão para estabilidade.
O Fed tem a missão dupla de controlar a inflação e garantir emprego forte. As tarifas impostas por Trump complicam essa tarefa, pois tendem a elevar preços ao consumidor e diminuir contratações.
Juros altos ajudam a conter a inflação, mas podem esfriar o mercado de trabalho; juros baixos têm efeito contrário, estimulando inflação e emprego.
O discurso de Powell poderá indicar se ele apoia cortes para proteger o emprego, como Bowman e Waller, ou se prefere cautela para controlar a inflação.
Se os juros dos EUA caírem, o real pode se valorizar, já que a taxa Selic no Brasil permanece alta, criando um diferencial favorável.
Internamente, o mercado segue atento à decisão do ministro Flávio Dino, que disse que ordens judiciais e administrativas estrangeiras só valem no Brasil se aprovadas pelo Supremo Tribunal Federal.
Essa decisão, relacionada ao rompimento da barragem de Mariana, impacta indiretamente nas tensões entre Brasil e EUA, especialmente em relação à aplicação da Lei Magnitsky, que mira o ministro Alexandre de Moraes.
Instituições financeiras brasileiras podem ser prejudicadas se cumprirem sanções contra Moraes, fato que levou a forte queda de ações bancárias na Bolsa.
Moraes enfrenta críticas do governo Trump, que o acusa de decisões arbitrárias e cerceamento da liberdade.
As tarifas de 50% impostas por Trump a produtos brasileiros foram justificadas, entre outros motivos, pela suposta perseguição a aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Enquanto o governo brasileiro busca diálogo com os EUA, o mercado vê na decisão de Dino um obstáculo às conversas, aumentando o receio de retaliações que afetem bancos que não cumprirem as sanções.
Segundo Fernando Bergallo, diretor da FB Capital, o cenário político interno está dominando o mercado, embora assuntos internacionais também sejam relevantes. Os efeitos das questões políticas tendem a ser pontuais e não duradouros.