O dólar continuou caindo pelo segundo dia seguido em relação ao real, acompanhando a tendência da moeda americana no mercado internacional. Informações recentes sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos mostraram resultados abaixo do esperado, aumentando a expectativa de que o Federal Reserve possa reduzir os juros em sua próxima reunião.
No começo da tarde, o dólar chegou a R$ 5,2992 e fechou em R$ 5,3133, o menor valor desde meados de novembro. A moeda americana tem mostrado queda contínua no começo de dezembro e, no ano, apresenta uma desvalorização superior a 14%.
Segundo o economista-chefe da Análise Econômica, André Galhardo, a valorização do real é influenciada principalmente por fatores externos favoráveis às moedas de mercados emergentes. Além disso, o desempenho da economia brasileira, que demonstra resistência da indústria e do emprego, contribui para essa valorização.
André Galhardo também destaca que essa estabilidade na atividade econômica indica que o Banco Central deve manter uma postura conservadora, o que dificulta um corte na taxa Selic em janeiro. Com a inflação contendo quedas e a taxa real de juros aumentando, o país se torna mais atraente para investimentos.
Um relatório divulgado mostrou que o setor privado americano eliminou 32 mil vagas em novembro, contrariando as expectativas que previam a criação de 40 mil empregos. Esse dado reforça a ideia de que o Fed pode cortar os juros em sua reunião de dezembro, uma hipótese que tem cerca de 90% de chance, segundo monitoramento do CME Group.
O índice que mede a força do dólar frente a outras moedas importantes teve uma queda acentuada, aproximando-se de seus níveis mais baixos do dia. Em relação às moedas próximas ao real, o peso colombiano teve uma alta significativa, enquanto o peso chileno e o rand sul-africano apresentaram desempenho apenas um pouco melhor que o real.
De acordo com o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, a surpresa negativa nos números de emprego nos EUA pode estar ligada à paralisação parcial do governo americano, que afetou o setor privado e a tomada de decisões das empresas. Ele acredita que o Fed deve agir com cautela e aguardar dados mais completos para decidir sobre os cortes nos juros.
No Brasil, o Banco Central informou que houve saída líquida de mais de US$ 4 bilhões na última semana de novembro, principalmente devido a transferências financeiras relacionadas a lucros e dividendos. O fluxo cambial do mês também foi negativo, acumulando aproximadamente US$ 7 bilhões em saída.
Especialistas indicam que o aumento da diferença entre as taxas de juros no Brasil e nos EUA, com a Selic mantida em 15%, tende a amenizar a pressão sobre o real neste mês, apesar do fluxo de remessas para o exterior.
Bolsa
O índice Ibovespa seguiu em alta, atingindo recordes históricos no início de dezembro, impulsionado principalmente por ações de empresas ligadas a commodities, como a Vale. Em contraste, as ações do setor financeiro tiveram quedas. Entre as maiores altas do dia, destacam-se Usiminas, Magazine Luiza e CSN; enquanto Direcional, Assaí e Eneva registraram perdas.
Nos Estados Unidos, os principais índices também fecharam em alta, com o Dow Jones subindo quase 1%. A analista Alison Correia ressalta que o apetite por risco tem sido estimulado pelas expectativas de cortes de juros pelo Fed, o que favorece investimentos em mercados emergentes como o Brasil.
Além disso, a redução da inflação no país cria condições para um possível corte da taxa Selic já em janeiro, o que também contribui para o otimismo no mercado acionário brasileiro.
Luise Coutinho, da HCI Advisors, comenta que os dados fracos do setor privado americano reforçam a expectativa de redução da taxa de juros pelo Fed no próximo encontro. A estimativa é que o corte seja de 0,25 ponto percentual, a ser anunciado em 10 de dezembro.
Na quinta-feira, a atenção do mercado estará voltada para a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro referente ao terceiro trimestre, que deve mostrar crescimento moderado. Marco Noernberg, da Manchester Investimentos, comenta que o país mantém crescimento, ainda que com desaceleração em relação ao primeiro semestre.
Juros
Na bolsa de juros futuros, as taxas suavemente voltaram a subir após queda inicial, resultado de ajustes técnicos. Apesar disso, as taxas permaneceram próximas dos níveis anteriores.
Durante a manhã, a redução na curva de juros seguiu o movimento dos títulos americanos, que caíram após os dados fracos de emprego e a queda do dólar frente ao real.
O desempenho dos títulos americanos influenciou o mercado local, mas a alta nas taxas no início da tarde indicou certa instabilidade no movimento.
Um especialista do mercado sugeriu que o movimento poderia estar ligado à antecipação de um grande leilão de títulos públicos pelo Tesouro Nacional que ocorrerá em breve.
Otávio Oliveira, do Banco Daycoval, acredita que os dados fracos reforçam a necessidade de cortes de juros nos EUA para evitar desaceleração econômica. Ele estima que o Fed deve cortar a taxa básica em 0,25 ponto na próxima reunião.
A ferramenta do CME Group indica quase 90% de probabilidade de corte nos Fed Funds em dezembro, o que, apesar de não garantir impactos mecânicos no Brasil, ajudaria o Banco Central a controlar o câmbio e a inflação ao elevar o diferencial de juros.
No Brasil, a expectativa é que o Comitê de Política Monetária mantenha a Selic em 15% na próxima reunião, porém o mercado ficará atento a sinais sobre possível corte nos meses seguintes, com muitos acreditando que a redução efetiva ocorrerá em março de 2026.
Estadão Conteúdo

