O dólar fechou em alta nesta quinta-feira, chegando a R$ 5,3395, após atingir o pico de R$ 5,3727 pela manhã. O movimento acompanhou o comportamento da moeda americana no exterior e foi influenciado por incertezas relacionadas à paralisação parcial do governo dos Estados Unidos, que atrasa dados econômicos importantes e impacta as expectativas de cortes nas taxas de juros americanas. Internamente, o cenário é marcado pela cautela em relação ao possível efeito da aprovação do projeto de isenção do Imposto de Renda (IR) na Câmara dos Deputados.
Apesar de haver compensações previstas, como a cobrança mínima de 10% para rendas anuais acima de R$ 1,2 milhão e tributação sobre dividendos, permanecem dúvidas sobre o real impacto fiscal da proposta e suas consequências para a inflação.
Além disso, a aprovação do projeto é vista como uma vitória significativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que pode enfraquecer a oposição, geralmente mais alinhada à austeridade fiscal.
No mercado cambial, o real teve um desempenho inferior em relação a outras moedas latino-americanas durante a manhã, mas recuperou parte das perdas no decorrer do dia. A maior taxa real de juros no Brasil contribui para limitar apostas contra o real e estimular realizações de lucros no curto prazo.
Alguns operadores sugerem que o movimento inicial de alta do dólar pode estar relacionado a rumores sobre possíveis avanços em projetos para zerar tarifas de ônibus, cuja viabilidade, no entanto, é considerada remota pela equipe econômica.
Segundo Marcelo Bacelar, gestor de portfólio da Azimut Brasil Wealth Management, o Federal Reserve sinalizou recentemente possíveis cortes nas taxas de juros, favorecendo a tendência de dólar fraco globalmente, enquanto o Banco Central do Brasil mantém postura firme, o que ajuda a manter o real estável, apesar das incertezas locais.
Embora as discussões sobre o Imposto de Renda possam causar flutuações temporárias, não deve haver impactos significativos nos preços dos ativos. O que realmente importa, segundo Bacelar, é como a proposta pode aumentar a popularidade do governo e fortalecer sua posição para as eleições do próximo ano.
O índice DXY, que mede a força do dólar frente a uma cesta de seis moedas fortes, fechou em alta moderada, refletindo a volatilidade causada pelo shutdown governamental nos EUA, que adia a divulgação de indicadores econômicos importantes.
Mercado de ações
Após um período de valorização, o Ibovespa registrou uma queda mais acentuada nesta quinta-feira, fechando abaixo de 144 mil pontos, seu menor nível desde meados de setembro. O índice teve seu maior recuo diário em porcentagem desde agosto, refletindo preocupações tanto externas quanto internas.
O mercado avaliou o impacto da aprovação do projeto de isenção do IR e a ausência de dados econômicos dos Estados Unidos devido ao shutdown. A incerteza fiscal gerada por esses fatores afetou o câmbio, a Bolsa e também a curva de juros futuros.
O projeto de isenção vem acompanhado de compensações tributárias, incluindo a taxação mínima para altos rendimentos e dividendos, o que, segundo economistas, ajuda a limitar os custos fiscais da medida.
José Alfaix, economista da Rio Bravo Investimentos, destaca que a maior propensão ao consumo dos beneficiados pela isenção pode ajudar a evitar uma desaceleração econômica mais forte. Já Maurício Une, do Rabobank, ressalta que, apesar da renúncia fiscal de aproximadamente R$ 26 bilhões, as medidas compensatórias indicam um saldo positivo para o consumo das famílias.
Juros futuros
A possibilidade de aumento do risco fiscal estimulou a alta dos juros futuros, com os contratos mais longos registrando avanços significativos. Os agentes do mercado monitoram não só o projeto do IR aprovado, mas também rumores sobre propostas de gratuidade nas tarifas de ônibus, que poderiam gerar custos elevados para o governo.
Erlan Valverde, especialista em direito tributário, considera positiva a ampliação da isenção, mas expressa preocupação com o modelo de compensação que recairia sobre empresas já altamente tributadas.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, alerta para o risco de aumento da gastança pública e de pautas populistas que podem agravar o cenário fiscal no último trimestre do ano.
Erich Decat, analista político da Warren Investimentos, acredita que o Senado deve aprovar o texto ainda em 2025, reduzindo incertezas fiscais.
A possibilidade de tarifas de ônibus zeradas gerou ruídos no mercado, apesar de ser vista como remota pela equipe econômica, aumentando a cautela dos investidores.
Esses fatores, combinados com uma maior aversão ao risco externa, influenciaram o comportamento do mercado financeiro no dia.