Pedro S. Teixeira
São Paulo, SP (FolhaPress)
O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou que dois jovens conseguiram roubar 800 milhões de reais usando apenas um notebook em Brasília. A maioria do dinheiro foi recuperada.
O ataque aconteceu em 30 de junho e é considerado o maior furto cibernético do Brasil. Os criminosos invadiram o sistema da empresa C&M Software, que conecta bancos ao Pix.
Em 2005, um roubo ao Banco Central de Fortaleza causou um prejuízo de 165 milhões, mas usou túneis e envolveu mortes. Este novo ataque foi feito com poucos comandos digitais.
A investigação revelou lavagem de dinheiro e resultou em uma parceria entre a Polícia Federal, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Essas instituições compartilham informações para combater crimes financeiros e digitais.
Como resultado da operação Magna Fraus, o Banco Central revisou as regras para as chamadas ‘contas bolsão’, que juntam dinheiro de várias pessoas sob um mesmo titular.
A nova regra exige que as instituições financeiras compartilhem informações dos titulares dessas contas, facilitando o controle e a fiscalização.
O dinheiro roubado foi dividido em contas bolsões e em criptomoedas. A Polícia Federal obteve conversas entre os suspeitos: Patrick Zanquetim de Morais, estudante de medicina, e Ítalo Jordi Santos Pireneus, conhecido como Breu.
Os advogados de Zanquetim e da namorada dele, Nilla Vitória Ribeiro Campos, que também foi presa, deixaram o caso. O advogado de Breu não está respondendo aos contatos.
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, destacou que as contas bolsão são usadas para lavar dinheiro e sugeriu que o prazo para se adequar às novas regras seja reduzido para seis meses.
Isaac Sidney, presidente da Febraban, explicou que os bancos criaram normas para dificultar a abertura de contas em nome de terceiros e fechar as suspeitas rapidamente.
PF prende estudantes e suspeitos
A investigação identificou cinco principais suspeitos do ataque: Henrique Magnavita Lins (Russo), Wesley Nascimento Lopes (Spider), Marcos Paulo Pereira de Oliveira (Leitão), além de Breu e Zanquetim. Todos estão presos.
Breu coordenava a operação, enquanto Zanquetim cuidava do desbloqueio do dinheiro, cobrando uma taxa de 3% em criptomoedas.
Russo, que mora em Goiânia, e Spider também ajudaram a planejar o golpe.
Os criminosos criaram um sistema falso que enviava ordens ao Banco Central como se fossem da C&M Software. Leitão era responsável pela conexão de internet usada no crime, que estava registrada em nome de um laranja.
Breu e Russo executaram o crime no hotel Royal Tulip, em Brasília, de acordo com depoimentos.
Desde o começo da investigação, a Polícia Federal prendeu 23 pessoas, além de João Nazareno Roque, funcionário da C&M Software preso em São Paulo.
Na operação, foram apreendidos 15 veículos de luxo, incluindo carros da BMW, Mercedes Benz e Porsche.
Processos criminais estão em andamento nas justiças de São Paulo, Goiás e na Justiça Federal.
A quebra do sigilo de contas na corretora de criptomoedas Bybit revelou que cerca de 205 milhões de reais desviados chegaram às carteiras digitais de Zanquetim e Nilla, casal que mora em Goiânia e foi preso em julho.
O celular de um dos suspeitos trouxe referências a Breu, que é jogador de pôquer e integrante do grupo principal dos criminosos.
Em 30 de outubro, a Polícia Federal prendeu Marcos Paulo Pereira de Oliveira em Goiânia. Ele confessou ter sido motorista de Breu em uma viagem a Brasília no dia 29 de junho, antes do crime.
Outros sete suspeitos estiveram em Brasília durante o ataque, incluindo Russo. As defesas deles não foram localizadas.
Na casa do motorista, a PF apreendeu um BMW, carteiras de criptomoedas e aparelhos eletrônicos. Dispositivos e dinheiro também foram encontrados em casas de outros suspeitos em Goiânia.
Seguindo investigações, Breu e quatro criminosos deixaram o Brasil em um jatinho particular para Buenos Aires em julho. Breu foi preso em Madri, enquanto Russo e Spider foram para Frankfurt, na Alemanha.
Em 31 de outubro, a Polícia Federal cumpriu seis mandados de prisão na Espanha e dois na Argentina.

