Raquel Lopes, Constança Rezende, Thaísa Oliveira, Bruno Ribeiro e Marianna Holanda
Folhapress
A menos de um ano das eleições, os governos de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Lula (PT) estão em conflito nos bastidores, disputando destaque político devido à crise do metanol, que já causou cinco mortes confirmadas em São Paulo e outras 22 estão sendo investigadas.
O governo de Lula anunciou a abertura de um inquérito pela Polícia Federal (PF) para investigar a possível participação do crime organizado na adulteração das bebidas. Logo depois, o governo de Tarcísio realizou uma coletiva negando que organizações criminosas estejam envolvidas no caso.
Lula manifestou interesse em concorrer ao quarto mandato, enquanto Tarcísio é considerado uma opção para unificar votos da direita com apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Autoridades federais comentam reservadamente que há falta de coordenação entre os governos estadual e municipal para definir ações estratégicas futuras, como fiscalizações e prevenção de novos casos.
Também avaliam que houve precipitação ao afirmar que o crime organizado não estaria envolvido, justificando o ingresso da PF devido à confirmação de mortes suspeitas em outros estados.
O governo de São Paulo lembra que a fiscalização do envase cabe ao Ministério da Agricultura, enquanto a fiscalização da comercialização é responsabilidade estadual.
A crise ganhou grande repercussão no último final de semana e, na segunda-feira (29), o governador Tarcísio de Freitas foi criticado pela oposição por visitar o ex-presidente Bolsonaro, que está em prisão domiciliar.
O governo estadual argumenta que não haveria necessidade da PF atuar, pois a investigação já estava avançada localmente.
Fontes relatam que a administração do PT procura protagonismo em investigações nacionais, como no caso do assassinato do delegado que combatia o grupo criminoso PCC (Primeiro Comando da Capital), Ruy Ferraz.
A PF atua quando o crime ultrapassa os limites estaduais, como parece ocorrer devido a casos suspeitos também em Pernambuco.
O ministro Ricardo Lewandowski declarou que a rede de distribuição parece envolver mais de um estado, justificando a competência da PF para atuar.
O diretor da PF, Andrei Rodrigues, afirmou que as investigações em São Paulo ocorrerão em breve, em parceria com a polícia estadual.
Ele explicou que a investigação está relacionada a pesquisas recentes sobre a cadeia de combustíveis, já que parte do metanol importado passa pelo porto de Paranaguá e poderá haver ligação com o crime organizado.
Fontes indicam que não há provas que o PCC esteja envolvido na adulteração, acreditando que o metanol era usado para limpar embalagens e não misturado às bebidas falsificadas.
Tarcísio de Freitas negou a participação do PCC, afirmando que não há evidências de envolvimento do crime organizado no caso.
Ele também comentou que não há indícios de quadrilhas organizadas atuando, o que o fez evitar o termo “crime organizado”.
Prevê-se que a disputa entre os governos continue à medida que as eleições se aproximem.
Ambos os lados acusam-se mutuamente de tentar politizar a crise do metanol.
O manejo da crise é importante para ambos, já que tem grande impacto político e gerou preocupação nacional.
Apesar das disputas, as equipes técnicas das esferas federal e estadual têm se reunido desde o dia 27 para trocar informações sobre casos e ações.
No início da semana, a Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça emitiu alerta para Procons com orientações sobre a segurança das bebidas no mercado.
A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) declarou que a intoxicação pode estar relacionada à atuação da facção.
A associação afirmou que o metanol usado pelo PCC para adulterar combustível pode ter sido vendido a destilarias clandestinas após a operação Carbono Oculto, que investigou lavagem de dinheiro no setor.
O promotor Yuri Fisberg, do Ministério Público de São Paulo, considerou precipitado afirmar que o metanol das bebidas seria o mesmo usado em combustíveis adulterados.
Até agora, na operação Tank do Paraná, a PF encontrou maior concentração de etanol nos combustíveis adulterados, sem evidência do uso do metanol.
Ele comentou que a ligação é possível, mas sem provas concretas até o momento.
Em agosto, a PF e o MP de São Paulo realizaram operações contra o crime organizado na cadeia de combustíveis e no setor financeiro.
Esses órgãos organizaram coletivas simultâneas para destacar a disputa pelas investigações sobre o crime organizado.
Parte do esquema incluía desvio de metanol, encontrado em níveis até 90% em postos, quando o limite permitido pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) é 0,5%.
A origem do metanol e a forma como as bebidas foram contaminadas ainda são desconhecidas; a Polícia Civil investiga bares e adegas locais pelos quais passaram as pessoas intoxicadas.
