ARTHUR GUIMARÃES DE OLIVEIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Em um período de apenas 24 horas, grupos alinhados à direita organizaram e distribuíram mensagens no WhatsApp reagindo à tarifa anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Essa comunicação tomou conta das publicações virais e dominou boa parte das conversas espontâneas entre usuários, mesmo que a esquerda ainda mantenha maior participação nesses diálogos.
Os dados são de um estudo da empresa Palver, que analisou mais de 26 mil mensagens sobre o tema em 100 mil grupos públicos entre quarta-feira (9) e sexta-feira (11).
As mensagens viralizadas, frequentemente compartilhadas por usuários que fazem envios em massa, apontam o presidente Lula (PT) como corrupto, ineficiente e traidor, associando-o ao grupo Brics e responsabilizando-o diretamente pelas tarifas. As críticas destacam que ele desestabiliza a economia e se submete ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Por outro lado, uma série de mensagens defende o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como alguém perseguido injustamente, retratando Trump como um líder que apenas reagiu a uma injustiça, enquanto a esquerda seria a verdadeira causadora da crise diplomática.
O número de mensagens virais favoráveis à direita aumentou de quase 60% entre quarta e quinta-feira (10) para cerca de 90% entre quarta e sexta-feira.
De acordo com Felipe Bailez, economista e CEO da Palver, esse nível mostra que a direita normalizou essa posição nas redes. Ele afirma que essa predominância da direita nas mensagens virais é comum em muitos temas e é considerada o comportamento esperado nesse ambiente.
O que surpreende é a esquerda ainda liderar nas conversas orgânicas, que são interações mais naturais entre os usuários. A pesquisa indica que nessa área a narrativa da esquerda ficou com 55% das discussões, mas isso representa uma queda de 10 pontos percentuais em comparação ao dia anterior.
Bailez acredita que há uma mudança em curso. A direita intensificou as ações com mensagens coordenadas, e isso já se reflete nas conversas diárias. Assim, a direita praticamente domina as mensagens virais, enquanto a esquerda perde espaço nas conversas naturais.
Segundo ele, a direita encontrou um novo discurso para usar nas disputas, focando em culpar o governo atual e se posicionando como vítimas da situação, dizendo: “É uma situação difícil, lamentamos o governo nos colocar assim”.
Por outro lado, o discurso pró-Lula mostra orgulho pela reação firme do presidente contra o americano e acusa Bolsonaro de traição por ação que teria levado às tarifas. Há também quem veja as medidas como resposta a ataques contra a soberania do Brasil, fortalecendo a imagem do petista como defensor nacional.
O estudo ressalta que as mensagens possuem alto teor emocional, com linguagem agressiva, sarcástica e uso frequente de termos pejorativos como “ladrão de nove dedos”, “nazifascista”, “mito das joias”, “pelego dos EUA” e “bananinha”, além de risadas e emojis para zombar dos adversários.
Bailez destaca que não é possível afirmar que essa tendência se consolidará, pois as opiniões podem se manter firmes ou o cenário pode se estabilizar. Ele conclui que a direita ajustou seu discurso e conseguiu aumentar sua presença nas redes sociais.
