A Primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, visitou Nuuk em 24 de setembro para apresentar desculpas públicas às mulheres vítimas de uma política estatal de contracepção forçada que ocorreu entre 1960 e 1992. Esse episódio, um dos mais controversos na relação entre Copenhague e o território do Ártico, envolveu a colocação de dispositivos intrauterinos (DIUs) sem o consentimento das vítimas, que incluíram meninas a partir de 12 anos.
Mette Frederiksen descreveu o momento como um reconhecimento de um capítulo difícil da história compartilhada. A deputada Aaja Chemnitz, representante do Groenlândia no Parlamento dinamarquês, ressaltou a importância das desculpas para as mulheres afetadas e para a sociedade como um todo. Esse ato é um passo seguinte após as desculpas iniciais feitas em agosto.
O objetivo da campanha era reduzir a taxa de natalidade da população inuíte, que na época era considerada elevada pelas autoridades dinamarquesas. Estima-se que cerca de 4.500 mulheres tenham sido submetidas ao procedimento sem seu conhecimento ou aprovação, incluindo menores. A responsabilidade pelo sistema de saúde só foi transferida para o governo do Groenlândia em 1992.
Além dos danos físicos, muitas vítimas ficaram estéreis e enfrentaram graves traumas psicológicos. Médicos ginecologistas do Groenlândia ainda encontram DIUs em pacientes sem que estas saibam de sua presença.
As denúncias surgiram após o relato de uma sobrevivente e o lançamento, pela emissora pública dinamarquesa DR em 2022, de uma série de podcasts que evidenciaram a extensão da ação. Uma investigação oficial foi aberta e seus resultados foram divulgados em setembro de 2025. Atualmente, uma segunda apuração com foco legal está em andamento para avaliar a possibilidade de crime de genocídio, com relatório previsto para a primavera de 2026.
No início da semana, Mette Frederiksen anunciou a criação de um fundo de reconciliação para indenizar financeiramente as vítimas e outras pessoas do Groenlândia que sofreram discriminação. O montante ainda não foi definido. A chefe do governo frisou que não é possível reparar o ocorrido, mas é fundamental assumir a responsabilidade.
O advogado Mads Pramming, representante de aproximadamente 150 vítimas que movem ação contra o Estado pela violação de direitos humanos, afirmou que o pedido de desculpas é um passo importante, mas que a reparação financeira e o reconhecimento completo dos abusos são exigências fundamentais.
O presidente do Groenlândia, Jens-Frederik Nielsen, também pediu desculpas em nome do governo local. Seu antecessor, Mute B. Egede, chegou a classificar o caso como genocídio.
Essa política de contracepção forçada não foi o único conflito na relação entre Dinamarca e Groenlândia. Casos de adoções compulsórias e remoções de crianças inuítes para programas de assimilação cultural também marcaram essa história. Em 2022, o Estado dinamarquês desculpou-se e indenizou seis crianças separadas de suas famílias para integrar uma elite de língua dinamarquesa.
O contexto internacional influenciou a decisão dinamarquesa atual. Conforme declarou Aaja Chemnitz, declarações do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a possível compra do Groenlândia e o interesse estratégico americano no território aceleraram os processos de reconciliação por parte do governo de Copenhague.
