Presidente conversou por quase 2 horas com correspondentes estrangeiros. Segundo repórter alemão, ela disse que está sendo alvo de um ‘golpe’.
Alvo de um processo de impeachment, a presidente Dilma Rousseff concedeu nesta quinta-feira (24) uma entrevista a correspondentes de jornais de seis países para falar sobre a crise política e econômica brasileira. A entrevista, que durou quase duas horas, foi dada a repórteres dos jornais “Die Zeit” (Alemanha), “The New York Times” (Estados Unidos), “El País” (Espanha), “The Guardian” (Inglaterra), “Le Monde” (França) e “Página 12” (Argentina).
“Ela usou essa palavra, golpe. Disse que é um golpe diferente do que ocorreu na ditadura militar, mas é um golpe”, relatou o correspondente do “Die Zeit”.
“Mas ela está otimista em superar a crise e em reconquistar a opinião pública”, completou o alemão.
A repórter Claire Gatinois, do francês “Le Monde”, contou que, ao comentar o impeachment, a presidente disse que o processo “não tem fundamentos legais”.
“Ela abordou todos os pontos do processo e disse que ele não tem fundamentos legais”, afirmou a repórter da França.
Ainda de acordo com o jornalista Thomas Fischermann, parte da entrevista foi dedicada à crise econômica brasileira.
“Me surpreendeu que a presidente apresentou vários dados sobre a economia e comentou cada ponto. Não imaginaria que a Angela Merkel [chefe de estado da Alemanha] falasse com tantos detalhes”, enfatizou o repórter do jornal alemão.
Até a última atualização desta reportagem, a íntegra da entrevista ainda não havia sido divulgada pela Secretaria de Comunicação da Presidência.
Jaques Wagner
Na última quarta-feira (23), o chefe de gabinete da Presidência, Jaques Wagner, também deu entrevista a correspondentes estrangeiros no Rio de Janeiro. Na conversa, de acordo com o jornal espanhol “El País”, o ex-ministro da Casa Civil criticou a imprensa brasileira e disse que existe uma “cobertura descompassada” da mídia.
Jaques Wagner também voltou a chamar de “golpe”, na entrevista, o processo de impeachment em curso no Congresso Nacional.
Aos jornalistas estrangeiros, o chefe de gabinete de Dilma destacou que se o impeachment prosperar, o sucessor da petista, no caso o vice-presidente da República, Michel Temer, não terá legitimidade popular para governar.
“O impeachment não é solução de nada, é agravamento da crise”, enfatizou Wagner ao jornal espanhol.
Repercurssão internacional
A atual crise política brasileira tem chamado a atenção da imprensa internacional. Nas últimas semanas, o Brasil foi tema de reportagens e editoriais de veículos estrangeiros.
A mais recente edição da revista britânica “The Economist” – uma das mais prestigiadas do mundo – traz um editorial sobre o Brasil com o título Time to Go (Hora de partir), em referência à situação política de Dilma Rousseff.
A revista é publicada no final da semana, mas a capa da edição latino-americana, estampada pela presidente brasileira, foi divulgada no Twitter nesta quarta.
A revista do Reino Unido diz que a presidente brasileira “perdeu o que lhe sobrava de credibilidade” com a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o comando da Casa Civil.