Um estudo recente revelou que o diagnóstico tardio do câncer do colo do útero resulta em custos significativamente maiores para o Sistema Único de Saúde (SUS). Além de afetar negativamente a sobrevida das pacientes, detectar a doença em estágios avançados requer mais hospitalizações e tratamentos médicos intensivos.
Pesquisadores da MSD Brasil, uma empresa farmacêutica internacional responsável pela vacina nonavalente contra o HPV disponível na rede privada, alertam para essa situação. A vacinação contra o HPV, principal método preventivo contra o câncer do colo do útero, também está acessível gratuitamente pelo SUS via vacina quadrivalente. Essa vacina protege contra os tipos do vírus mais associados ao câncer e é recomendada para adolescentes de 9 a 14 anos.
O levantamento analisou dados de 206.861 mulheres acima de 18 anos diagnosticadas com a doença entre janeiro de 2014 e dezembro de 2021, utilizando o banco de dados público do DataSUS.
Os resultados indicam que a necessidade de quimioterapia aumenta conforme o câncer é identificado em estágios mais avançados, assim como o número de internações e consultas ambulatoriais mensais. O diagnóstico em estágio avançado ocorre em cerca de 60% dos casos no país, segundo os pesquisadores.
O estudo destaca ainda as desigualdades sociais e econômicas relacionadas ao câncer do colo do útero. Em até 80% dos casos, os óbitos acontecem em nações de renda baixa e média, como é o caso do Brasil.
O Instituto Nacional de Câncer estima aproximadamente 17 mil novos casos anualmente no país. Conforme os dados da MSD Brasil, a maior parte dos diagnósticos corresponde a mulheres não brancas, com menor escolaridade, que utilizam o SUS.
“Como a detecção precoce do câncer do colo do útero é rara no Brasil, este estudo evidencia o elevado impacto econômico para a saúde pública, especialmente pelos atrasos no diagnóstico. Isso reforça a necessidade urgente de intensificar ações de prevenção e rastreamento, rumo à meta de eliminação da doença”, afirma o estudo ao analisar os dados.
Impacto da pandemia
A pesquisa também mostra os efeitos da pandemia de Covid-19 no tratamento dessa doença pelo SUS. Em 2020, a proporção de pacientes submetidas somente à cirurgia caiu para 25,8%, ante 39,2% no período entre 2014 e 2019.
Além disso, houve uma redução aproximada de 25% nos procedimentos de radioterapia, independente de cirurgia ou quimioterapia, em todos os estágios. Já a quimioterapia isolada aumentou, em média, 22,6% para todos os níveis da doença.
Esse cenário reflete falhas no atendimento provocadas pelo colapso hospitalar durante a pandemia, com potenciais efeitos negativos duradouros na saúde das pacientes, que ainda estão sendo avaliados.
Medidas preventivas
Os especialistas destacam que quase 99% dos casos de câncer do colo do útero resultam de infecções persistentes pelo HPV. A prevenção deve incluir vacinação contra o HPV, exames regulares para detectar a infecção e suas lesões, além do tratamento de lesões pré-cancerosas.
Na rede pública, a vacina quadrivalente é oferecida a meninas e meninos entre 9 e 14 anos. Também está disponível para pessoas de 9 a 45 anos em condições específicas, como diagnóstico de HIV/Aids, tratamento com quimioterapia ou radioterapia, transplante de órgãos, entre outras. Na rede privada, aplica-se a vacina nonavalente para pessoas de 9 a 45 anos.
“O custo econômico e social do câncer do colo do útero no Brasil é elevado. Este estudo reforça a urgência de políticas públicas eficazes para reduzir as desigualdades, ampliando a cobertura da vacinação contra o HPV e o rastreamento da doença. Com diagnóstico precoce, a necessidade de cuidados paliativos diminui, possibilitando melhor uso dos recursos para oferecer tratamentos oncológicos de qualidade às pacientes brasileiras”, conclui a pesquisa.
