Neste sábado, 28 de junho, comemoramos o Dia Internacional do Orgulho LGBT, um momento crucial para reafirmar a luta por direitos, respeito e reconhecimento. Contudo, no âmbito da saúde, ainda existem diversos desafios, especialmente na identificação, prevenção e tratamento de doenças que impactam diretamente a comunidade LGBTQIAPN+.
Além do HIV, que tradicionalmente é foco de campanhas e políticas de saúde pública, especialistas destacam outras doenças que continuam sendo pouco diagnosticadas devido à falta de informação, acolhimento e serviços adaptados às necessidades específicas desse grupo.
Renata Zorzet Manganaro de Oliveira, médica infectologista em São Paulo, ressalta que a saúde LGBT vai muito além do HIV, incluindo condições silenciosas que recebem pouca atenção, como problemas de saúde mental, prevenção ao câncer e infecções sexualmente transmissíveis.
Entre essas questões pouco discutidas estão transtornos mentais como depressão, ansiedade e estresse pós-traumático, agravados por situações de discriminação, exclusão familiar e escassez de profissionais capacitados para atender essa população.
Maria Carolina Dalboni, ginecologista e sexóloga no Rio de Janeiro, explica que o medo do julgamento leva muitas pessoas a evitarem buscar ajuda, perpetuando tabus que dificultam o diagnóstico e tratamento adequados.
Além disso, doenças gastrointestinais funcionais, como a síndrome do intestino irritável, têm sido associadas ao estresse crônico e a traumas, enquanto o uso de substâncias psicoativas pode estar relacionado a contextos de exclusão e sofrimento psicológico.
Uma preocupação crescente é o aumento de certos tipos de câncer, tais como o câncer anal — mais frequente entre homens gays, bissexuais e mulheres trans — e o câncer de mama em pessoas trans que utilizam hormônios. A escassez de rastreamentos adaptados e falta de orientações específicas comprometem a prevenção.
No que diz respeito às infecções sexualmente transmissíveis, apesar do HIV manter-se em evidência, outras ISTs têm crescido, especialmente entre homens gays, bissexuais e pessoas trans, incluindo sífilis, gonorreia, clamídia e herpes genital, frequentemente subdiagnosticadas pela ausência de serviços acolhedores e testagens adequadas.
O HPV é outro agente que necessita de atenção, pois pode provocar verrugas genitais e aumentar os riscos de câncer anal, cervical e orofaríngeo, principalmente entre quem pratica sexo anal receptivo.
Também é importante destacar que hepatites B e C podem progredir silenciosamente, ocasionando graves complicações hepáticas, porém ainda recebem pouca visibilidade nas campanhas de prevenção.
Prevenção e acompanhamento contínuo
É fundamental realizar exames regulares para ITS, incluindo HIV, sífilis, hepatites B e C, gonorreia e clamídia. Indivíduos que fazem sexo anal receptivo devem fazer rastreamento para câncer anal. Pessoas trans demandam cuidados específicos, como exames de papanicolau em homens trans e avaliação da próstata em mulheres trans.
Quem utiliza hormônios precisa monitoramento hormonal e metabólico para identificar possíveis efeitos colaterais. A vacinação deve contemplar HPV, hepatites A e B, gripe, tétano, meningite, entre outras previstas em campanhas.
Métodos preventivos como PrEP, PEP e o uso correto de preservativos seguem sendo essenciais para a proteção.
Importância do acolhimento nos serviços de saúde
A falta de um ambiente acolhedor nos centros de saúde continua sendo uma barreira significativa para o cuidado integral da população LGBTQIAPN+.
Renata Zorzet Manganaro de Oliveira afirma que o medo de preconceitos ou humilhações afasta muitas pessoas dos serviços de saúde, atrasando o diagnóstico e favorecendo a progressão de doenças tratáveis.
Maria Carolina Dalboni reforça que a formação insuficiente dos profissionais de saúde dificulta o atendimento adequado às diversidades de corpos e identidades. Muitas pessoas trans interrompem tratamentos hormonais ou evitam exames devido a constrangimentos.
Além da prevenção das ISTs, o cuidado deve incluir acompanhamento psicológico, suporte durante a transição de gênero e espaços livres de julgamentos para debates sobre sexualidade, identidade e bem-estar.
“É necessário compreender o paciente como um todo, integrando saúde mental, prevenção, endocrinologia e sexualidade com respeito e atenção”, conclui Maria Carolina.