Estael Vieira tinha 19 anos quando começaram a aparecer as primeiras manchas na sua pele. Naquela época, ela não sabia o que era psoríase e escondeu as lesões por muito tempo. “No início, eu sentia vergonha”, lembra. “As pessoas pensavam que era contagioso, e eu evitava usar roupas curtas.”
O preconceito chegou até dentro da sua casa. “Meu marido tinha medo de me tocar. Foi preciso levá-lo a um médico para explicar que psoríase não é contagiosa. Hoje ele entende que é uma condição que precisa de cuidado, não de preconceito.”
O Dia Mundial da Psoríase, celebrado em 29 de outubro, destaca a importância de diagnosticar cedo, derrubar mitos e apoiar quem tem essa condição. Segundo a National Psoriasis Foundation, cerca de 125 milhões de pessoas no mundo vivem com essa doença inflamatória, crônica e não contagiosa, que pode ser controlada com o tratamento correto.
O que é psoríase
A dermatologista Danielle Aquino, do Hospital de Base do Distrito Federal, explica que a psoríase é uma doença causada por um problema no sistema imunológico, que acelera a renovação das células da pele. Isso gera o acúmulo de células formando manchas vermelhas e descamativas. “A pessoa já tem uma predisposição genética, e fatores do ambiente podem desencadear a doença — por isso não é contagiosa”, comenta.
As manchas costumam ser secas e esbranquiçadas, aparecendo nos cotovelos, joelhos, couro cabeludo, barriga e parte inferior das costas. Em alguns casos, a inflamação pode atingir unhas e articulações, causando dor e rigidez, conhecido como artrite psoriásica.
Fatores genéticos são importantes, mas estresse, infecções, machucados na pele e alguns remédios podem provocar crises. “Muitos pacientes dizem que as manchas aparecem depois de momentos de tensão ou estresse no trabalho”, destaca a dermatologista.
Impacto emocional
Mais que uma doença da pele, a psoríase afeta a saúde emocional. O psiquiatra Sérgio Cabral, do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal, observa que o estresse não só piora as crises, mas cria um ciclo entre o sofrimento mental e o avanço da doença.
“Quando a pessoa está estressada ou ansiosa, o corpo libera substâncias que aumentam a inflamação”, explica. “As manchas visíveis causam baixa autoestima e isolamento, aumentando o estresse e agravando a psoríase.”
O preconceito ainda é uma grande dificuldade. “A sociedade sempre associou doenças de pele à exclusão, como foi com a hanseníase. Isso aumenta o sofrimento. É importante buscar apoio psicológico e seguir o tratamento. Não escolhemos ter a doença, mas podemos cuidar dela com responsabilidade e esperança.”
Tratamento e cuidados
Para Danielle Aquino, o tratamento depende do caso. Pode incluir cremes com corticoides ou vitamina D3; luz ultravioleta de forma controlada; remédios orais para casos moderados ou graves; e medicamentos biológicos injetáveis se outros tratamentos não funcionarem.
Hidratar a pele todos os dias é essencial. “Produtos com ureia ajudam a diminuir a descamação e a coceira”, lembra a médica. “A psoríase não tem cura, mas é possível viver bem com acompanhamento médico e controle do estresse.” O tratamento está disponível no Sistema Único de Saúde, com medicamentos gratuitos e acompanhamento nas Unidades Básicas de Saúde.
Com tratamento e apoio emocional, é possível manter uma boa qualidade de vida e autoestima. Para Estael Vieira, conviver com a doença significa aprender a se aceitar. “A psoríase me ensinou a ter paciência e amor próprio. Quando me aceitei, minha pele melhorou.”
Com informações do IgesDF
