O transporte público no Entorno do Distrito Federal está prestes a passar por uma grande mudança. Na terça-feira, 16 de setembro, o Governo do Distrito Federal (GDF) e o Governo de Goiás firmaram um acordo junto à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que marca o início do Consórcio Interestadual da Região Metropolitana do Entorno (CIRME). Neste acordo, também foi solicitado o adiamento do aumento de 2,91% nas tarifas de ônibus, que estava previsto para 22 de setembro.
De acordo com o secretário do Entorno do DF, Cristian Viana, o acordo define as bases legais e administrativas para um novo modelo de gestão do transporte coletivo. O CIRME será o órgão responsável por planejar, contratar, fiscalizar e regulamentar o serviço de transporte na região.
Este consórcio, que ainda precisa ser aprovado pela Câmara Legislativa do DF (CLDF) e pela Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), vai permitir uma gestão compartilhada dos contratos de ônibus, que hoje são separados entre os dois governos. A União não fará parte do consórcio, mas a ANTT atuará como reguladora para garantir o alinhamento das normas.
Estrutura e próximos passos
O novo modelo prevê uma Assembleia Geral e uma Diretoria Executiva, que serão responsáveis por fiscalizar as empresas, definir metas para a frota e a frequência dos ônibus, e assegurar a qualidade do serviço. A política de tarifas será definida por um Conselho Deliberativo formado por representantes dos dois estados, que discutirá os reajustes de tarifas mantendo o equilíbrio entre o custo do serviço e a capacidade de pagamento dos usuários.
Para o consórcio começar a funcionar de fato, é necessário passar por quatro etapas: aprovação legislativa, assinatura do contrato, instalação da governança e definição das diretrizes de operação. Só depois disso o sistema será implementado.
Impacto nas tarifas
Cristian Viana explicou que o financiamento do consórcio se dará por meio de contratos de rateio, dividindo os custos conforme a contribuição de cada ente. O objetivo é manter as tarifas acessíveis e impedir aumentos abusivos. A definição do preço da passagem será feita de forma clara e coletiva, garantindo uma política pública colaborativa.
Solução para problemas antigos
Espera-se que o consórcio resolva problemas antigos enfrentados pelos usuários, como ônibus lotados, atrasos frequentes e falta de integração com o sistema do Distrito Federal. Entre as medidas previstas estão a bilhetagem unificada, padronização das linhas e fiscalização rigorosa das metas estabelecidas para as operadoras. O objetivo é oferecer um sistema de transporte digno, eficiente e integrado, que acompanhe o crescimento da região e atenda às necessidades dos usuários diários.
Moradores da Cidade Ocidental, no Entorno, relataram dificuldades com o transporte público e esperam por melhorias com o consórcio. Alexandra França, de 43 anos, que trabalha como empregada doméstica em Brasília, destacou que os ônibus têm problemas frequentes e muitas vezes deixam os passageiros inseguros. Ela mencionou o medo de que os ônibus quebrem em locais isolados e a sobrecarga dos motoristas, causada pela ausência dos cobradores, que acaba atrasando as viagens.
Alexandra também ressaltou que a integração será positiva somente se trouxer melhorias concretas, sem aumento exagerado das tarifas. Ela pediu reforço na linha de ônibus para o Friburgo, especialmente à tarde, quando os intervalos entre os ônibus podem ultrapassar uma hora. “Se for para aumentar a passagem, que seja por melhorias reais: mais ônibus, mais motoristas e o retorno dos cobradores”, afirmou.
Claide Reis, de 49 anos e também moradora da Cidade Ocidental, criticou as condições precárias dos ônibus e a sobrecarga do motorista que acumula a função do cobrador, o que provoca atrasos constantes. Para ela, aumentar a frota e oferecer veículos em melhores condições é fundamental. “Temos poucos horários: um de manhã e outro para voltar. Durante o dia, faltam ônibus, e isso é um problema sério”, disse.