Por Larissa Barros
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O Distrito Federal lançou uma iniciativa inédita para ajudar as pessoas que vivem nas ruas: o primeiro hotel social do Brasil. Esse local tem 200 vagas diárias para moradores de rua, oferecendo pernoite, comida e kits de higiene. A ação é uma parceria entre a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) e o Instituto Mãos Solidárias. O acesso ao hotel é permitido entre 19h e 23h, com saída até às 8h do dia seguinte. Há também um espaço para cuidar dos animais de estimação dos moradores.
Para facilitar o transporte, ônibus irão sair da Rodoviária do Plano Piloto e do Centro Pop, localizados em áreas com maior concentração de pessoas em situação de rua. O objetivo é garantir acolhimento digno e contínuo durante todo o ano, não apenas em épocas de frio intenso.
A Secretaria de Desenvolvimento Social reforça que o hotel social oferece o mínimo necessário para essa população vulnerável, promovendo dignidade durante a noite. “Ao oferecer alimentação, banho e um local para dormir, tiramos essas pessoas da invisibilidade, trazendo luz e buscando soluções efetivas”, destaca a Sedes.
Mauro dos Anjos, especialista em gestão pública, afirma que esse hotel social representa um avanço importante na assistência social. “É uma resposta qualificada para acolhimento digno e permanente. Oferecer pernoite, alimentação e atendimento direcionado ajuda na redução de danos e inclusão social. O ideal é garantir moradia estável como base para recuperação”, explica.
Ele destaca que modelos similares já funcionam bem em outros países. “Na Finlândia, a população em situação de rua diminuiu mais de 35% desde 2008 devido a políticas contínuas de moradia e suporte psicossocial. No Brasil, iniciativas como o Moradia Primeiro, implantado em Campinas-SP, mostram que atendimento permanente melhora saúde, estabilidade e reinserção no mercado de trabalho”, completa Mauro.
Além do acolhimento, o hotel terá atendimento socioassistencial, semelhante ao oferecido nos Centros Pop e Creas. O objetivo é identificar casos, inserir as pessoas no Cadastro Único e encaminhar para programas do governo, como o Renova DF, que reserva parte das vagas para moradores de rua.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil tem mais de 281 mil pessoas em situação de rua, número crescente nos últimos anos. Para Mauro dos Anjos, o hotel social é um passo importante, mas deve fazer parte de uma política ampla e contínua para ter efeito real.
“Atende necessidades emergenciais com dignidade, mas precisa ser complementado com redes de acolhimento diversificadas, acesso a benefícios, programas de saúde mental e combate à dependência, além de monitoramento intersetorial para entender melhor a população em situação de rua”, acrescenta.
Um desafio da Sedes é convencer essas pessoas a aceitarem o acolhimento, especialmente porque muitas não querem se separar dos seus animais. “O vínculo com os pets é forte. O hotel oferece um canil com água, ração e cuidados, o que deve aumentar a adesão ao projeto”, explica a secretaria.
Essa atenção aos animais é fundamental para o sucesso do projeto. Mauro dos Anjos afirma que espaços para pets são uma estratégia eficaz nas políticas de acolhimento. “Muitos moradores de rua recusam abrigos que não aceitam seus animais, pois eles são sua companhia e parte da família. Além disso, essa estrutura reduz riscos e melhora a relação entre beneficiários e equipe técnica, facilitando a continuidade do acolhimento”, conclui.