Uma população sofrendo pela fome, hospitais abarrotados e sem remédios, milhares de crianças sem pais e ataques constantes: em conversa com a RFI, um trabalhador humanitário da Faixa de Gaza revela os horrores que muitos meios de comunicação não mostram. De acordo com ele, a decisão do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de controlar a Cidade de Gaza agrava ainda mais o sofrimento dos civis.
A situação humanitária na Faixa de Gaza, área de um ofensiva militar israelense há quase dois anos, atingiu níveis críticos, afirmaram recentemente vários países europeus, incluindo França e Reino Unido, além do Canadá e Austrália. Riyad, palestino que trabalha para a ONG Ajuda Islâmica França, confirma essa realidade. Ele relata falta de comida, água, remédios e locais seguros para as pessoas se protegerem.
“Na Cidade de Gaza, onde vivem quase um milhão de pessoas, todos foram deslocados para o Oeste, confinados em cerca de 10% a 15% da área urbana. As outras regiões foram esvaziadas e viraram ‘áreas vermelhas’ controladas pelo exército israelense”, explica.
Desde a decisão de Netanyahu, a população tenta se mover para locais considerados seguros dentro da cidade, mas a superlotação torna essa tarefa difícil. “Estamos buscando refúgio; os espaços estão lotados. Estamos na esperança de uma solução”, relata Riyad.
Embora o órgão israelense Cogat declare que não há fome generalizada, o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas informa que centenas, incluindo muitas crianças, morreram de fome recentemente. Há controvérsias sobre os dados apresentados, mas Riyad afirma que Gaza enfrenta a pior crise humanitária da sua história, com pessoas passando dias sem comer.
Ele conta que dos milhares de caminhões de ajuda que deveriam entrar, poucos receberam autorização de Israel, e muitos foram atacados ou saqueados, sem chegar aos pontos de distribuição oficiais da ONU. Nos mercados, os preços dos alimentos estão inacessíveis para a maioria, como a farinha que chega a custar o equivalente a 315 reais o quilo, enquanto faltam alimentos básicos para crianças e remédios.
Riyad enfatiza a gravidade da falta de medicamentos, descrevendo hospitais destruídos, superlotados e com equipes médicas insuficientes, além da escassez de água potável, que faz as pessoas esperarem longas horas por caminhões-tanque.
O Egito, juntamente com o Catar e os Estados Unidos, tenta negociar um cessar-fogo temporário e a troca de prisioneiros, além do envio de ajuda humanitária sem condições. Para Riyad, a população está cansada do silêncio internacional e precisa de apoio real para que essa guerra termine.
Ele teme que, se Netanyahu continuar com sua decisão, o desastre será maior com a destruição da Palestina e do seu povo. Apesar de toda a dor, Riyad relata que continua firme para apoiar famílias e população, encarando a luta pela vida como essencial diante do sofrimento e da morte.