A Procuradoria-Geral da República (PGR) investiga um desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, Ivo de Almeida, suspeito de usar seu filho, Ivo Júnior, para lavar dinheiro obtido por meio de propinas na venda de sentenças judiciais. O magistrado criou uma empresa, a Citron Residence Incorporações SPE Ltda, localizada na zona Leste da capital paulista, que teria servido para receber vantagens ilegais e realizar a lavagem de dinheiro.
De acordo com a denúncia da PGR, Ivo Júnior consta no quadro societário da empresa, com cota social no valor de R$ 225 mil, mas não teria condições financeiras para tal investimento conforme seus rendimentos declarados, que variaram entre R$ 10.181,85 e R$ 31.639,16 entre 2016 e 2022. As despesas feitas por ele, especialmente com cartões de crédito, somam cerca de R$ 800 mil, um montante incompatível com sua renda oficial.
A investigação constatou que a propriedade dos imóveis do empreendimento Citron estava formalmente registrada em nome dos filhos do desembargador, enquanto a gestão financeira e administrativa era conduzida pelo próprio magistrado. Mensagens eletrônicas acessadas pela Polícia Federal indicam que Ivo de Almeida controlava as finanças relacionadas aos imóveis, que movimentaram aproximadamente R$ 8,48 milhões entre 2016 e 2020, proveniente majoritariamente de recursos sem origem identificada.
A denúncia formalizada em junho de 2024 no Superior Tribunal de Justiça inclui acusações contra o desembargador por corrupção passiva, organização criminosa, advocacia administrativa e lavagem de dinheiro. O filho do magistrado e outras três pessoas, vinculadas ao esquema de venda de sentenças, também estão entre os acusados.
Consta na denúncia que o desembargador e seu filho realizaram depósitos fracionados em dinheiro em espécie para evitar registros nos órgãos de controle financeiro, uma técnica conhecida como smurfing. Ao todo, foram contabilizados 41 atos de lavagem de dinheiro, sendo 17 por meio do filho, totalizando movimentações superiores a R$ 121 mil. A PGR ressalta que esses valores estão relacionados a práticas criminosas anteriores, como associação criminosa e corrupção.
Átila Machado, advogado do desembargador, refuta as acusações, classificando a denúncia como absurda e a investigação como tendenciosa. Segundo ele, não houve venda de sentenças ou favorecimento em decisões judiciais por parte de Ivo de Almeida.
A PGR também destaca que o desembargador realizou empréstimos vultosos a seus filhos e a um advogado sem vínculo formal, numa tentativa de ocultar a origem dos recursos ilícitos. A perda do cargo público e o confisco dos bens ligados às práticas criminosas estão entre as medidas requeridas na denúncia.