São Paulo, 15 – O desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, Alexandre Aguiar Bastos, está sendo investigado pela Polícia Federal por suspeita de envolvimento em um esquema de venda de decisões judiciais. Segundo a investigação, ele comprou terrenos, imóveis e carros caros usando dinheiro vivo, dinheiro esse que a Polícia Federal acredita ser resultado das atividades ilícitas que ele teria cometido enquanto juiz.
Na sua defesa, apresentada ao Conselho Nacional de Justiça, Alexandre afirmou que o dinheiro vivo veio da conta bancária do escritório de advocacia onde trabalhava. O jornal Estadão tentou contato com o desembargador, mas não houve resposta até o momento.
Alexandre Aguiar Bastos está sendo investigado na Operação Última Ratio, iniciada em outubro do ano passado por determinação do Superior Tribunal de Justiça. Ele está afastado das funções desde então e enfrenta um Processo Administrativo Disciplinar aprovado por unanimidade pelo Conselho Nacional de Justiça no dia 9 da última terça-feira, com relatoria do ministro Mauro Campbell.
O desembargador é suspeito de manipular uma decisão sobre a venda de uma fazenda em Mato Grosso do Sul, avaliada em R$ 4 milhões. O Conselho Nacional de Justiça informou que Alexandre suspendeu o julgamento duas vezes e mudou sua decisão após a venda parcial do imóvel, indicando possível influência indevida.
A Polícia Federal encontrou mensagens no celular do desembargador que indicam o uso frequente de dinheiro em espécie para pagar despesas pessoais de maneira suspeita, usando intermediários para esconder a origem e o destino desses valores.
Em uma conversa preocupante, o desembargador orientou um interlocutor, identificado como Juliano, a pegar dinheiro vivo diretamente com ele para pagar a reforma de um imóvel. Juliano retirou cerca de R$ 20 mil em notas de R$ 200 com o desembargador, segundo as mensagens capturadas pela Polícia Federal.
Veículos e imóveis comprados em dinheiro vivo
A defesa do desembargador afirma que os valores em dinheiro vivo vieram do escritório de advocacia, sendo sacados em pequenos valores para evitar suspeitas. A Polícia Federal, porém, suspeita dessa versão, destacando que os valores foram usados para comprar um Jaguar no valor de R$ 269 mil, um terreno em Alphaville por R$ 230 mil e um imóvel em Aparecida do Taboado por R$ 95 mil, tudo pago em espécie ou parcialmente em dinheiro vivo.
Entre 2022 e 2024, Alexandre movimentou no mínimo R$ 276 mil em dinheiro vivo, sendo que R$ 219 mil têm origem desconhecida, o que levanta sérias dúvidas sobre a procedência desses recursos.
Suspeitas de lavagem de dinheiro
A Polícia Federal também apontou que o desembargador usava assessores para realizar pagamentos em dinheiro vivo e que essa prática sugere o uso de laranjas para ocultar a origem do dinheiro. Um jet-ski avaliado em R$ 98 mil comprado por Alexandre também chama atenção, pois o pagamento foi dividido em duplicatas que não coincidem com as transações bancárias registradas, indicando possível lavagem de dinheiro.
O Conselho Nacional de Justiça destacou que as explicações da defesa não eliminam a suspeita de recebimento de vantagens indevidas e ocultação dos recursos, indicando um comportamento incompatível com a ética esperada de um magistrado.
Alexandre Aguiar Bastos foi afastado de suas funções e está sob investigação enquanto o processo administrativo disciplinar segue em andamento. O Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul abriu espaço para manifestações da defesa, que até o momento não apresentou uma resposta definitiva.

