São Paulo, 26 – O desembargador Ricardo Gentil Eulálio, do Tribunal de Justiça do Piauí, votou a favor de que o promotor de Justiça Maurício Verdejo Gonçalves Júnior, afastado do Ministério Público do Estado, seja formalmente acusado por suspeita de corrupção.
O julgamento foi interrompido devido a um pedido de mais tempo para análise feito pelo desembargador Pedro Macêdo. Ainda não há previsão para a continuação da votação.
Maurício Verdejo é acusado de exigir cerca de 3 milhões de reais em propinas do empresário Junno Pinheiro Campos de Sousa, do setor hospitalar, para encerrar duas investigações criminais contra ele.
Caso a denúncia seja aceita, Maurício Verdejo responderá por concussão, prevaricação, supressão de documento e tráfico de influência. Durante a investigação, a Polícia Federal encontrou 900 mil reais em dinheiro vivo na residência do promotor.
Também foi denunciado o advogado André Ricardo Bispo Lima, que já foi assessor no Ministério Público e foi exonerado após o caso vir à tona.
Fica a cargo do Tribunal do Piauí a decisão sobre a renovação das medidas cautelares, como o afastamento das funções e o uso de tornozeleira eletrônica para monitoramento, aplicadas ao promotor e ao seu ex-assessor.
‘Negócio bilateral’
A defesa nega a acusação de extorsão. O advogado João Marcos Araújo Parente, que representa Maurício Verdejo, afirma que as conversas trocadas por WhatsApp indicam uma negociação entre o promotor e o empresário.
Segundo o advogado, a palavra da vítima sozinha não é suficiente para justificar a aceitação de uma denúncia por concussão.
A defesa argumenta ainda que a denúncia apresenta excessos e que não teve acesso a todas as provas que fundamentam as acusações.
“Trata-se de uma acusação séria. Estamos exercendo o direito de defesa para assegurar a aplicação correta da lei, mas alertando o tribunal de que não há base para acusar o promotor por oito crimes derivados de um único fato,” disse o advogado.
Recebimento da denúncia
O desembargador Ricardo Gentil Eulálio, relator do caso, votou para que o processo criminal tenha início.
“A denúncia apresenta de forma detalhada os fatos e as circunstâncias, bem como está apoiada em amplo conjunto de provas,” afirmou o desembargador.
O tribunal está examinando se existem indícios mínimos que justifiquem a abertura de uma ação penal. A possível participação do promotor e do seu assessor será analisada em julgamento posterior, com depoimentos de testemunhas e outras produções de provas.
Operação Iscariotes
A investigação começou quando o empresário Junno Pinheiro Campos de Sousa procurou a Polícia Federal para relatar o pedido de propina.
Ele afirmou que, em julho de 2024, foi abordado pelo promotor em um restaurante, onde teria recebido um prazo para pagar os 3 milhões de reais, evitando assim investigações e novos processos contra ele.
A Polícia Federal realizou uma ação controlada e gravou o momento em que o promotor recebeu parte do dinheiro.
Estadão Conteúdo