Há três meses, Rodrigo Paz era um senador boliviano da oposição pouco conhecido, filho de um ex-presidente famoso e com uma trajetória controversa como prefeito. Agora, ele se tornou o primeiro líder conservador a vencer uma eleição presidencial na Bolívia em duas décadas.
Surpreendendo a muitos, o centrista Paz, de 58 anos, superou nas urnas o ex-presidente de direita Jorge “Tuto” Quiroga, garantindo a vitória no segundo turno da eleição realizada em 19 de outubro. Ele tomará posse como chefe de Estado em 8 de novembro.
Em seu discurso de vitória, Paz agradeceu aos seus apoiadores e prometeu reabrir as portas do país para o mundo, buscando unir diversos setores em prol de superar a atual crise econômica e social.
O novo presidente enfatizou que seu governo trabalhará com empenho para recuperar a relevância internacional da Bolívia, perdida nas últimas duas décadas, e construir um futuro baseado na cooperação entre parlamentares, organizações sociais e outros segmentos da sociedade.
Estado da economia e desafios imediatos
Paz assume um país com graves dificuldades econômicas após 20 anos sob o comando do partido Movimento ao Socialismo, liderado pelo carismático ex-presidente Evo Morales. O modelo econômico anterior, baseado em subsídios amplos e câmbio fixo, entrou em colapso com a estagnação das exportações de gás natural.
A população enfrenta filas para abastecimento de combustível e escassez de dólares, refletindo a pior crise econômica em quatro décadas. A escolha por Paz revela o desejo dos bolivianos por mudanças e reformas graduais para estabilizar as finanças e retomar o crescimento.
Perfil de Rodrigo Paz
Filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora, que governou a Bolívia entre 1989 e 1993, Rodrigo Paz nasceu na Espanha e possui formação em economia e relações internacionais, com ampla experiência no serviço público.
Apesar de iniciar sua carreira política no partido de esquerda do pai, evoluiu para um conservador pragmático, focado em reformas econômicas e apoio empresarial. Foi prefeito de Tarija entre 2015 e 2020 e, até recentemente, atuava como senador.
Campanha e vitória inesperada
Considerado um candidato surpresa, Paz começou sua campanha com pouca visibilidade e enfrentou dificuldades iniciais para conquistar espaço na mídia e nas pesquisas. Sua escolha do ex-policial Edman Lara como vice foi decisiva para aumentar sua popularidade, especialmente entre a classe trabalhadora indígena das terras altas.
A campanha adotou uma abordagem simples e de baixo custo, focando na mensagem de “capitalismo para todos”, contrastando com os recursos abundantes do adversário.
Principais desafios futuros
- Superar a crise do combustível e a escassez de dólares, que afetam a economia e o dia a dia dos cidadãos.
- Controlar a inflação anual elevada, que atualmente está em torno de 23%.
- Promover a unidade nacional e a conciliação em uma sociedade marcada por profundas divisões regionais e sociais.
- Gerar confiança entre diferentes grupos políticos e sociais para implementar reformas necessárias sem causar rupturas.
Relações internacionais
Rodrigo Paz sinalizou uma mudança nas relações exteriores da Bolívia ao buscar melhorar o diálogo com os Estados Unidos, visando parcerias em investimentos, combate ao crime organizado e controle da imigração ilegal.
Essa aproximação pode representar uma guinada após anos de distanciamento e tensão com os americanos, alinhando o país novamente com potências globais em busca de desenvolvimento econômico e estabilidade.
Considerações finais
O governo de Rodrigo Paz terá o desafio de equilibrar a necessidade urgente de reformas econômicas com a manutenção do apoio popular em um momento delicado. Sua capacidade de liderança e negociação será fundamental para conduzir a Bolívia a uma fase de recuperação e progresso sustentável.