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segunda-feira, 11/08/2025

Desafios da oncologia no Brasil: prevenção e diagnóstico são essenciais

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LAIZ MENEZES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Roger Chammas, professor titular da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Centro de Investigação Translacional em Oncologia do Icesp, destaca que sem prevenção e diagnóstico precoce, os avanços em tratamentos contra o câncer não conseguem melhorar os resultados no Brasil.

Ele explica que os principais obstáculos para que os avanços científicos em oncologia cheguem ao SUS incluem os custos, a necessidade de alinhar pesquisas às necessidades da saúde pública, a falta de coordenação para que o diagnóstico e o início do tratamento sejam rápidos, além do tempo que leva para aplicar as descobertas na prática clínica.

Segundo Chammas, a prioridade deveria ser investir em métodos para detectar o câncer cedo. É fundamental informar a população e capacitar os profissionais de saúde para que o diagnóstico seja feito o quanto antes e o tratamento possa ser iniciado rapidamente.

Dados do Ministério da Saúde divulgados em 2023 mostram que o número de pacientes que iniciam o tratamento com tumores já avançados aumentou nos últimos anos. Em 2008, 53% dos pacientes começavam quimioterapia ou radioterapia com tumores avançados; em 2021, esse número subiu para 62%.

Chammas destaca que conscientizar sobre prevenção ajuda a identificar o câncer mais cedo. Ele cita como exemplo o câncer de cabeça e pescoço, em que a formação de dentistas para observar áreas da boca pode facilitar o diagnóstico precoce de lesões.

Este tipo de câncer tem alta incidência no Brasil, e o diagnóstico tardio reduz as chances de cura. Pesquisa publicada pela revista The Lancet Regional Health Americas mostrou que cerca de 80% dos casos desse câncer diagnosticados entre 2000 e 2017 foram detectados em fases avançadas.

No Brasil, existem importantes programas e ações para diagnosticar o câncer mais cedo, como campanhas nacionais de conscientização, por exemplo, Outubro Rosa e Novembro Azul, além do rastreamento do câncer de colo do útero via exame papanicolau.

Apesar dos esforços, muitos pacientes ainda procuram tratamentos inovadores no exterior, como imunoterapia e terapias-alvo, que no momento podem ser experimentais e não têm eficácia comprovada.

Chammas reforça que o câncer é uma doença em evolução constante e que o tratamento pode ser feito no Brasil, mas que a corrida é entre o avanço da doença e o conhecimento médico. Quando a doença progride muito, as opções de tratamento diminuem.

Por meio de pesquisas clínicas feitas no Brasil e no exterior, o país pode pensar em incorporar novos tratamentos, mas o que vai realmente melhorar os resultados é o diagnóstico precoce, enquanto a doença ainda pode ser controlada.

Chammas ainda comenta que o Brasil realiza muitos investimentos em pesquisa na área da saúde, com apoio de agências como Fapesp, CNPQ e Ministério da Saúde. Porém, ele ressalta a necessidade de melhorar a organização para articular esses esforços e levar o conhecimento para a população, o que demanda mudanças culturais, educação e capacitação.

A pesquisa clínica voltada ao paciente traz avanços nos procedimentos e no manejo do tratamento, afirma. No entanto, o desafio é incorporar esses resultados na saúde pública por diversas razões.

Embora alguns tratamentos apresentem benefícios, nem todos os pacientes respondem da mesma forma. Por isso é fundamental informar os gestores públicos sobre o impacto real das terapias, função desempenhada pela Conitec, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS.

Por fim, Chammas comenta que o Prêmio Octavio Frias de Oliveira ajuda a dar projeção às pesquisas brasileiras e facilita a captação de recursos, mas que a definição das políticas públicas é responsabilidade do Ministério da Saúde, com suporte técnico da academia e especialistas.

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