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sexta-feira, 15/08/2025

Demência: como agir quando a pessoa não reconhece a família

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A demência é uma condição que causa a diminuição gradual das capacidades cognitivas, afetando a memória, o raciocínio, a linguagem e outras habilidades essenciais para preservar a independência do paciente. Um dos momentos mais difíceis para quem convive com o paciente é quando ele deixa de reconhecer pessoas próximas. Essa situação gera muita dor e incertezas sobre a melhor forma de agir.

De acordo com a neurologista e neurofisiologista Thaís Augusta Martins, responsável pela coordenação de Neurologia do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, o termo “demência” ou “síndrome demencial” abrange qualquer quadro de perda progressiva da cognição que prejudique as atividades diárias.

“A demência pode prejudicar a capacidade do indivíduo em cuidar das finanças, se localizar no tempo e no espaço, lembrar compromissos e realizar tarefas complexas”, esclarece a médica.

Definição de demência

Demência é caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas, como esquecimentos frequentes, repetição de perguntas, perda de compromissos e dificuldade para lembrar nomes. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece diagnóstico e tratamentos multidisciplinares em centros especializados e unidades básicas.

Um diagnóstico precoce possibilita intervenções que podem retardar os sintomas, aliviar a sobrecarga da família e melhorar a qualidade de vida do paciente.

O Ministério da Saúde aponta que até 45% dos casos de demência podem ser prevenidos ou retardados. A doença de Alzheimer é a forma mais comum e, no Brasil, a incidência entre pessoas com 65 anos ou mais é estimada em 7,7 casos por mil indivíduos por ano. Além da memória, a doença pode afetar a atenção, a linguagem, funções executivas e a percepção visuoespacial, fator importante para reconhecer rostos.

“Quando essas habilidades são afetadas, o paciente pode deixar de reconhecer pessoas próximas”, observa Thaís. Ela recomenda buscar avaliação médica assim que surgirem os primeiros sinais de comprometimento cognitivo, como esquecimentos frequentes e progressivos.

O fato de o paciente não reconhecer familiares indica um estágio mais avançado, acompanhado de dificuldades para falar, alterações comportamentais e perda da independência para realizar atividades básicas. “O tratamento iniciado precocemente não cura, mas pode retardar a evolução da doença e preservar a qualidade de vida”, completa a neurologista.

Impacto emocional para a família

Para os familiares, a situação é muito difícil. Conforme explica o geriatra Natan Chehter, membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, a reação inicial costuma ser um choque e tristeza profunda.

“Quando o paciente deixa de reconhecer alguém tão querido, surgem sentimentos de abandono, culpa e até raiva. Alguns familiares se afastam; outros tentam forçar lembranças mostrando fotos, o que pode gerar constrangimento para a pessoa doente”, relata o médico.

Natan reforça que é fundamental entender que essa perda não é por escolha ou falta de afeto, mas uma consequência clínica da demência.

“Cuidadores e familiares devem se preparar desde o princípio para este momento, evitando culpar o paciente ou a si mesmos”, aconselha.

Como manter a conexão com o paciente

Quando a memória está bastante afetada, insistir para que o paciente recorde fatos ou identifique rostos geralmente não funciona. “O mais eficaz é proporcionar experiências prazerosas sem exigir que ele tome decisões difíceis”, orienta Natan.

Em vez de perguntar qual música prefere ouvir, por exemplo, basta colocar a música de que ele gostava. O mesmo serve para filmes, livros ou atividades favoritas.

“A ideia é convidar a pessoa para atividades: ouvir música, passear no parque, visitar alguém querido. Se deixamos a decisão para ela, pode recusar e perder a chance de proporcionar prazer”, explica Natan.

Essa abordagem também é válida para hobbies e tarefas manuais. Na fase avançada, a estimulação da memória perde eficácia e o foco deve ser evitar estresse e conflitos.

“Se a pessoa gostava de pintar, mas não consegue mais criar obras completas, ofereça desenhos mais simples. Se jogava algum jogo, adapte as regras para que possa participar. É preciso aceitar que o ritmo será mais lento e que pode desistir no meio do caminho. O importante é que ela continue tendo acesso ao que gosta, de forma adaptada”, conclui.

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