O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou ao menos três relatos diferentes para explicar a manipulação da tornozeleira eletrônica que utilizava sob determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) desde julho deste ano.
Dentre as versões, apenas uma foi oficialmente comunicada à justiça: a justificativa de que o dano no equipamento ocorreu devido a um surto. As outras duas versões foram declarações informais.
A primeira versão consta em documento da Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape), que relata que, ao receber o alerta de violação da tornozeleira, os agentes inicialmente acreditaram que Bolsonaro tivesse colidido o aparelho contra uma escada. No entanto, a avaliação do equipamento indicou que não havia sinais de choque, mas sim marcas de queimadura na circunferência do dispositivo, especialmente no local de fechamento.
Com o alarme de violação, a diretora adjunta do Centro Integrado de Monitoração Eletrônica (Cime), Rita de Cássia Gaio Siqueira, visitou a residência do ex-presidente para averiguar a situação. Em um vídeo registrado, Bolsonaro admitiu ter usado um ferro de solda simplesmente por “curiosidade”.
Quando questionado sobre o uso do ferro quente, ele explicou: “Meti um ferro quente aí. Curiosidade”. E complementou: “Foi ferro de soldar […]. Não rompi a pulseira, não.”
No dia seguinte, na audiência de custódia realizada no domingo (23/11), Bolsonaro modificou sua versão inicial e atribuiu o ocorrido a um surto desencadeado pela combinação inadequada de remédios.
Segundo o registro da ata, ele afirmou estar tomando Pregabalina e Sertralina, prescritos por diferentes médicos, cuja interação teria provocado uma confusão mental durante a madrugada.
Ele relatou acreditar que havia um dispositivo de escuta dentro da tornozeleira, motivo pelo qual tentou abri-la com o ferro de solda.
“O depoente afirmou que estava com ‘alucinação’ de que tinha alguma escuta na tornozeleira, tentando então abrir a tampa. O depoente afirmou que não se lembra de surto dessa natureza em outra ocasião”, consta no documento.
Na audiência, mencionou ainda problemas de sono, com períodos interrompidos.
Bolsonaro contou que estava em casa acompanhado da filha, do irmão e de um assessor, todos dormindo no momento da manipulação da tornozeleira. Disse ter parado a ação ao recuperar a clareza mental e depois informado a equipe responsável pelo monitoramento eletrônico.
Esta última é a única versão oficial apresentada à justiça.
A manipulação da tornozeleira foi uma das justificativas para o ministro Alexandre de Moraes, do STF, alterar a prisão domiciliar para prisão preventiva do ex-presidente, considerando também o risco de fuga e o potencial tumulto gerado por uma vigília convocada pelo filho Flávio Bolsonaro (PL).
A tornozeleira retirada de Bolsonaro passará por perícia no Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal (PF), que investigará os danos, vestígios e ferramentas usadas. A defesa foi notificada para enviar explicações formais sobre a violação até a tarde do domingo (23).
