RAQUEL LOPES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
As duas principais organizações criminosas do Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), estão presentes em todas as 27 unidades federativas, mas dominam 13 estados.
Esses dados vêm do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com informações preliminares em parceria com a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O estudo completo será lançado em fevereiro.
De acordo com o relatório, o PCC domina em Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rondônia, Roraima, São Paulo e Piauí. Já o CV controla Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Tocantins e Rio de Janeiro, estado onde o grupo foi fundado.
O levantamento foi feito com colaboração das superintendências regionais da Abin, consultores especializados e secretarias estaduais de segurança pública.
Ambas facções são hoje organizações que ultrapassam os presídios e operam em nível transnacional, com métodos de atuação distintos.
Segundo Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a atual divisão ocorreu em 2016, após o assassinato de Jorge Rafaat, conhecido como o “Rei da Fronteira”, que abastecia os dois grupos. Esse evento levou ao rompimento entre PCC e CV e a uma guerra territorial no Brasil.
Após esse conflito, o CV passou a controlar a rota do Solimões e firmou alianças locais para garantir seu fornecimento, enquanto o PCC especializou-se em grandes operações e exportação para a Europa, dominando a rota caipira que conecta a fronteira ao Porto de Santos.
O Comando Vermelho expande-se agressivamente na Amazônia, utilizando confrontos para controlar territórios e abastece principalmente o consumo interno do Brasil, o segundo maior mercado mundial de cocaína. Seu controle abrange áreas da Amazônia, terras indígenas e grandes centros consumidores, como o Sudeste.
Já o PCC foca na ocupação estratégica de pontos importantes como portos, aeroportos e rodovias, operando com uma estrutura parecida com uma holding, com parceiros que auxiliam na logística do tráfico e uma rede internacional em 16 países, principalmente na Europa.
As duas facções também diferem na tomada de decisões internas: o PCC possui uma instância máxima chamada Sintonia Final, que controla questões graves como assassinatos e punições, enquanto o CV dá mais autonomia às lideranças regionais, o que ajuda na expansão.
Renato Sérgio de Lima ressalta que enfrentar essa nova configuração do crime exige uma ação coordenada, que envolva inteligência financeira, cooperação internacional, políticas sociais e proteção ambiental.
Entenda as facções
O PCC funciona como uma holding multinacional, enquanto o CV foca sua expansão na América do Sul e no controle das rotas amazônicas.
Comando Vermelho
- Presença em quatro países da América do Sul (Colômbia, Peru, Bolívia e Suriname) e também em Argentina, Paraguai e Venezuela.
- Estratégia focada na expansão regional na Amazônia.
- Principal atividade: controle das rotas fluviais na Amazônia para o escoamento da cocaína.
Primeiro Comando da Capital
- Atuação em 16 países, incluindo Paraguai, Bolívia, Colômbia, Itália, Espanha e outros.
- Modelo de funcionamento parecido com uma holding multinacional.
- Foco na exportação de cocaína via portos, especialmente o de Santos, e em lavagem de dinheiro global.
- Principais rotas: Rota Caipira (MT/MS – GO – MG – SP), Rota do Alto Solimões (Colômbia – Rio Solimões – Amazonas), Rota da Bolívia (Bolívia – MT) e Rota do Vale do Juruá (Peru – Acre).

