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domingo, 07/09/2025

Custos altos dificultam preservação da fertilidade em pacientes com câncer

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Em Brasília

Por Maria Clara Britto

No Brasil, conservar a fertilidade antes de tratamentos como quimioterapia ainda é uma realidade distante para muitos.

Com os avanços da medicina, é possível congelar óvulos, espermatozoides ou tecido ovariano, possibilitando que pacientes com câncer tenham a chance de ter filhos no futuro.

No entanto, os custos altos e a falta de políticas públicas adequadas criam uma grande diferença entre quem tem e quem não tem acesso a esse procedimento.

O médico Roberto de Azevedo Antunes, diretor da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e do Fertipraxis Centro de Reprodução Humana, destaca que decisões do Superior Tribunal de Justiça têm obrigado planos de saúde a custear a preservação de óvulos para pacientes com câncer até o término da quimioterapia. Após esse período, os custos passam a ser responsabilidade da paciente.

“Embora esses tratamentos geralmente não sejam cobertos pelos planos, o STJ determinou que a criopreservação seja custeada durante o tratamento oncológico”, afirma o médico.

Atendimento gratuito

Na saúde pública, a situação é mais limitada. A ginecologista Paula Araújo Bortolai, do programa Os Frutos da Vida do IPGO, explica que tratamentos reprodutivos não são amplamente oferecidos pelo SUS ou planos de saúde, dificultando o acesso.

O projeto, criado em 2012, dá atendimento gratuito e acompanhamento médico sem cobrança, mas as pacientes ainda precisam arcar com medicamentos e exames, o que representa um custo significativo durante um período delicado.

“Oferecemos apoio individualizado e suporte emocional, tanto na parte técnica quanto no acolhimento. Queremos reduzir a burocracia para que a paciente tenha o melhor atendimento possível”, diz Paula.

Ela destaca que a infertilidade pode ser um impacto severo tão grave quanto o próprio diagnóstico do câncer.

“Os tratamentos oncológicos podem afetar de modo irreversível a reserva de óvulos, impedindo a maternidade no futuro. A preservação da fertilidade traz esperança e qualidade de vida para essas mulheres”, complementa.

Um caso marcante para a equipe foi o de uma jovem de 35 anos diagnosticada com câncer de mama, que conseguiu congelar seus óvulos em menos de duas semanas e hoje é mãe, ressaltando a importância desse trabalho.

Para Paula Bortolai, é fundamental que políticas públicas estruturadas garantam o direito à preservação da fertilidade para todas as pacientes, integrando a saúde oncológica e reprodutiva.

Diferentes realidades mundiais

Em países como Reino Unido, França, Estados Unidos e Canadá, existem políticas que reconhecem a preservação da fertilidade como parte essencial do tratamento do câncer, facilitando o acesso e a cobertura dos custos.

No Reino Unido, o NHS inclui essa preservação em seu sistema, enquanto na França procedimentos relacionados são cobertos pela seguridade social conforme legislação recente.

Nos EUA, a cobertura varia conforme o estado, com 21 estados garantindo algum nível de financiamento. No Canadá, algumas províncias oferecem programas públicos ou benefícios fiscais para ampliar o acesso a tratamentos.

A importância da esperança

No Brasil, a dependência de iniciativas filantrópicas e a dificuldade em arcar com os custos reforçam a desigualdade de acesso.

Roberto Antunes enfatiza que o encaminhamento precoce para preservação da fertilidade é crucial para o sucesso do tratamento sem atrasar a terapia oncológica.

Paula Bortolai lembra que preservar a fertilidade é mais do que um procedimento: é uma maneira de oferecer esperança em meio ao desafio do diagnóstico de câncer.

“Muitas pacientes relatam que se sentem mais fortes ao saber que estão protegendo não só sua saúde, mas também um sonho de ter filhos no futuro, o que traz alívio e motivação para enfrentar o tratamento”, conclui.

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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