ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
SANTA MARTA, COLÔMBIA (FOLHAPRESS)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu participar de última hora da 4ª cúpula UE-Celac, encontro entre a União Europeia e países da América Latina e Caribe, realizado em Santa Marta, Colômbia.
Lula viajou em um bate e volta saindo de Belém domingo (9), passando quase nove horas em voo para ficar pouco mais de três horas e meia em Santa Marta. Ele deve fazer um discurso breve de cinco minutos, no qual provavelmente criticará a movimentação militar dos Estados Unidos contra a Venezuela.
Inicialmente fora do evento, Lula explicou que sua participação só faria sentido se a reunião tratasse dos navios militares americanos enviados para o Caribe pelo presidente Donald Trump. No entanto, a pauta oficial da cúpula, definida antes da crise atual entre Washington e Caracas, não menciona os EUA, abordando apenas de forma geral temas como “paz, segurança e prosperidade”.
Lula chegou em Santa Marta por volta das 11h35 (horário do Brasil) e foi ao local da cúpula às 12h, diferente do que havia sido divulgado inicialmente, quando sua chegada era prevista para a noite de sábado.
A tradicional “foto de família” com os líderes presentes foi adiada em mais de uma hora para aguardar a chegada de Lula, já que ele era um dos poucos participantes importantes confirmados, em um evento que teve baixa adesão, provavelmente devido ao receio de alguns países de desagradar o presidente Donald Trump, que aplicou sanções contra o presidente colombiano Gustavo Petro.
A organização da Colômbia confirmou a presença de dez governantes, incluindo o anfitrião. Entre os outros participantes relevantes estão o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, o primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, e o presidente do Conselho Europeu, António Costa.
Alguns líderes europeus importantes, como o presidente francês Emmanuel Macron, os primeiros-ministros da Alemanha, Friedrich Merz, e da Itália, Giorgia Meloni, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, não participaram.
O presidente da Argentina, Javier Milei, nem enviou representante de Estado. O Paraguai foi representado pelo vice-chanceler, enquanto Equador e México enviaram funcionários de menor graduação.
Em comparação, na cúpula UE-Celac de 2023, realizada em Bruxelas, Bélgica, quase 50 líderes latino-americanos e europeus estiveram presentes, incluindo todos os 27 chefes de Estado e governo da União Europeia.
Apesar da expectativa pelo discurso de Lula, a diversidade política dos 33 países da Celac dificulta que o grupo tenha uma posição unificada contra a campanha militar americana contra o governo do ditador venezuelano Nicolás Maduro.
Nos últimos meses, os EUA têm atacado embarcações no litoral sul-americano, acusando-as de tráfico de drogas venezuelano, embora não existam provas concretas. Pelo menos 66 pessoas morreram nesses ataques no Caribe e no Pacífico.
Essa ação militar, com envio de navios ao Caribe e caças a Porto Rico, é vista como pressão para que Maduro deixe o poder. Donald Trump alega que o ditador lidera o Cartel de los Soles, uma rede de tráfico, mas especialistas questionam sua existência.
A Celac recentemente enfrentou dificuldades para discutir a concentração de tropas militares americanas na região. Em reunião virtual no início de setembro, os países da organização tentaram aprovar uma declaração expressando preocupação com a presença militar extrarregional na América Latina e Caribe.
O texto afirmava que a região deve ser uma zona de paz, regida pela resolução pacífica de conflitos e proibindo ameaças militares. Embora não citasse diretamente Trump ou os EUA, países como Argentina, Paraguai, El Salvador e Peru decidiram não assinar o documento.
