Por Júlia Harlley e Beatriz Ocké
Pessoas que cuidam de familiares ou amigos com depressão enfrentam muitos desafios a cada dia. Quem cuida também precisa cuidar de sua própria saúde, explica a psicóloga Anna Luiza Gianasi, especialista em psicologia humanista.
Ela destaca que quem apoia vive uma rotina cheia de cansaço emocional, culpa e dificuldade para se equilibrar entre cuidar do outro e de si mesmo.
Rede de apoio
Anna Luiza Gianasi reforça que o tratamento da depressão deve incluir acompanhamento médico, terapia e uma rede de apoio que saiba ouvir e respeitar os limites para não adoecer junto.
A depressão é uma condição comum que pode afetar pessoas de todas as idades. É difícil reconhecê-la porque pode estar ligada a outros problemas mentais, como ansiedade e burnout.
Para identificar a depressão, é necessário um exame clínico feito por um profissional, com uma conversa detalhada com o paciente.
O que é depressão?
Ao contrário da tristeza passageira, a depressão traz um estado constante de desânimo, falta de vontade e desesperança.
Segundo o DSM-5-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), a depressão pode ter causas biológicas, como herança genética e alterações químicas no cérebro.
Também podem influenciar fatores psicológicos, como traumas, e sociais, como as comparações nas redes sociais.
“Depressão não é loucura ou coisa de doido; é uma doença séria que precisa de tratamento”, alerta a psicóloga.
Anna Luiza Gianasi destaca que existem tratamentos eficazes, tanto médicos quanto terapêuticos.
O apoio familiar e social é fundamental para a melhora, mas investimentos públicos em saúde mental ainda são baixos.
Desafios para a família
Um dos maiores problemas é o entendimento da doença pelos familiares, que às vezes pensam que se a pessoa tem uma vida aparentemente boa, ela não deveria estar mal.
O cuidador vive em constante preocupação e sensação de falta de controle, porque não sabe o que esperar a cada dia.
Anna Luiza Gianasi reforça a importância de cuidar também do cuidador para que ele não adoeça.
Importância do autocuidado
Cuidar somente do outro e esquecer de si pode causar desgaste emocional e levar o cuidador a adoecer também.
É preciso ser realista e entender que não se controla tudo o que a pessoa doente fará.
Anna Luiza Gianasi explica que quem cuida deve estar preparado para as variações de humor da pessoa com depressão para evitar frustrações.
O apoio inclui ouvir com atenção, reconhecer o sofrimento, ajudar em tarefas do dia a dia, incentivar o tratamento e criar momentos positivos juntos.
“Falar sobre o desejo de morrer evita o suicídio”, afirma a psicóloga.
O sucesso do tratamento é maior quando o cuidador não assume todo o peso sozinho e também cuida de si.
É importante buscar ajuda terapêutica, fazer pausas para descanso e trabalhar em parceria com a pessoa doente.
Anna aconselha dividir as responsabilidades com o paciente para tornar os desafios menos complicados.
A ajuda deve ser um suporte e não substituir as responsabilidades da pessoa com depressão, como o trabalho e o tratamento.
Limites no cuidado
Anna alerta que o cuidador não deve se anular e que ninguém pode oferecer o que não tem.
Apoio na comunidade
Em ambientes como universidades, onde a pressão é grande, sintomas que afetam a saúde mental são comuns.
A professora de psicologia destaca que políticas institucionais existem, mas ainda há um tabu na busca por ajuda.
“Todos devemos ajudar a acabar com esse preconceito”, reforça.
O suporte recebido torna o convívio mais humano e cuidadoso.
O Centro Universitário de Brasília oferece programas como o “Eis Me Aqui”, que proporciona atendimento psicológico a estudantes e professores.
Também há atividades em grupo, como cinema e rodas de conversa, que fortalecem os laços e a saúde mental.
Esses programas apoiam docentes e ampliam a rede de cuidado dentro da universidade.

