IDIANA TOMAZELLI
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
Os Correios enfrentam uma grave crise financeira que se arrasta por anos, que só foi admitida tardiamente pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Um socorro financeiro de R$ 20 bilhões, garantido pelo governo federal, foi necessário para tentar estabilizar a situação da empresa.
Além da perda de receita causada pela cobrança de impostos nas encomendas internacionais, chamada “taxa das blusinhas”, os Correios vêm sofrendo com o crescimento das despesas e a falta de controle sobre processos judiciais que pressionam as finanças da estatal. Após um período de bons resultados financeiros entre 2017 e 2021, impulsionados pelo aumento do comércio eletrônico durante a pandemia de Covid-19, a empresa começou a registrar prejuízos a partir de 2022.
De acordo com o novo presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, a empresa não se adaptou rapidamente às mudanças no mercado, o que trouxe impacto negativo na geração de caixa e na operação.
Em julho de 2023, a Receita Federal implementou o programa Remessa Conforme para agilizar o processamento de encomendas internacionais devidamente declaradas, afetando diretamente o negócio dos Correios nessa área, para a qual a empresa não conseguiu se reposicionar a tempo.
Embora os Correios tenham buscado novos mercados, como o transporte de medicamentos para governos estaduais, as receitas ainda são insuficientes para cobrir os custos operacionais crescentes. O governo, por sua vez, demorou a reconhecer a gravidade da situação e reagiu apenas quando o socorro financeiro se tornou inevitável.
Essa situação levou a empresa a atrasar pagamentos a fornecedores, prejudicando a qualidade dos serviços prestados e ocasionando perda de contratos, agravando ainda mais a crise.
Concorrentes privados, como Amazon, Mercado Livre e Magazine Luiza, aproveitaram a oportunidade para fortalecer seus serviços de logística, resultado da crise dos Correios, que passaram a perder espaço importante no mercado.
Enquanto a empresa tenta diversificar seus negócios e planeja um programa de recuperação, o empréstimo de R$ 20 bilhões deve ajudar a regularizar dívidas e garantir a continuidade das operações em 2025 e 2026.
Os desafios financeiros dos Correios são expressivos: há uma diferença de R$ 5,6 bilhões entre o que a empresa tem e o que deve nos próximos 12 meses, além da necessidade de quitar um empréstimo de R$ 1,8 bilhão previsto para 2026. Atualmente, a empresa enfrenta um prejuízo mensal de cerca de R$ 700 milhões, que pode chegar a R$ 1 bilhão no próximo ano sem investimentos para recuperação.
O plano de recuperação prevê redução de gastos operacionais, pagamento gradual das dívidas e aumento da produtividade para alcançar estabilidade financeira e operacional.
A situação delicada é agravada pelo aumento das despesas, que incluem a contratação de mais de 3.000 funcionários este ano e pagamentos adicionais acordados em negociações salariais, além de investimentos em frota elétrica e tecnologia, e custos com plano de saúde corporativo.
Outra fonte de despesa são as ações judiciais, especialmente trabalhistas, que a empresa não monitorava adequadamente, resultando em passivos inesperados e necessidade de republicar demonstrações financeiras anteriores para incluir esses débitos.
A crise judicial se tornou crítica a ponto de bancos anteciparem cobranças de um empréstimo devido à explosão dos precatórios a pagar, levando a bloqueios financeiros temporários e atrasos no pagamento de salários até a renegociação do contrato.
O conselho de administração aprovou a aquisição de software para melhorar o acompanhamento dos processos judiciais e cobrou medidas para reforçar a defesa técnica em ações trabalhistas.
Segundo a empresa, o passivo judicial está mais bem mapeado, com pagamentos previstos de R$ 960 milhões em 2025 e R$ 1,27 bilhão em 2026, valores que o empréstimo ajudará a cobrir.
Fabiano Silva dos Santos, anterior gestor da área jurídica, afirmou que foram realizadas revisões detalhadas de todos os processos para mitigar riscos financeiros, destacando que essas ações judiciais são antigas e não foram geradas pela sua gestão.