As pesquisas pelas palavras “vape” e “rouquidão” cresceram significativamente no Google na última década, conforme estudo realizado pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e a Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Os dados indicam uma crescente preocupação da população com os efeitos do cigarro eletrônico na saúde da voz.
Publicado na revista Audiology – Communication Research, o estudo analisa o comportamento dos brasileiros nas pesquisas no Google entre 2014 e 2024. Durante esse período, o termo “vape” alcançou o nível máximo de interesse na ferramenta Google Trends, que avalia a popularidade dos termos de busca ao longo do tempo e em diferentes regiões. O termo “rouquidão” também teve um aumento significativo.
Correlação entre “vape” e “rouquidão”
A análise revelou uma forte correlação positiva entre os dois termos, indicando que quando as buscas por “vape” aumentavam, as pesquisas por “rouquidão”, um sintoma comum de problemas vocais e respiratórios, também cresciam. Na escala do Google Trends de 0 a 100, “vape” atingiu o pico de 100 pontos, enquanto “rouquidão” alcançou 22. As médias na última década foram 25,9 e 3,87, respectivamente.
Os autores do estudo consideraram essa ligação estatisticamente significativa, destacando que o interesse pelos termos cresceu durante períodos em que houve alertas internacionais sobre lesões pulmonares causadas pelo cigarro eletrônico. Para os pesquisadores, isso indica que a população tenta entender os riscos do uso do vape para a voz e o sistema respiratório.
Efeitos do vape na saúde vocal
Estudos anteriores apontam que o cigarro eletrônico pode prejudicar o sistema respiratório e a voz, com casos de lesões nas pregas vocais. Sintomas frequentes incluem tosse constante, chiado no peito, dor de garganta e rouquidão.
O design moderno, os sabores atrativos e a ausência de cheiro criam uma falsa impressão de que o vape é uma alternativa segura ao cigarro comum. Ariane Pellicani, uma das autoras do estudo, destaca a necessidade de aprofundar as pesquisas sobre os impactos do vape na voz e no aparelho respiratório.
Além das alterações vocais, estudos internacionais associam o uso frequente desse dispositivo a inflamações nas vias aéreas superiores e agravamento de condições como laringite e faringite. Em jovens, os danos podem ser mais graves, pois o aparelho fonador ainda está em desenvolvimento.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe a venda, importação e propaganda do cigarro eletrônico no Brasil.
Uso do vape entre jovens
Apesar da proibição, cerca de 1 milhão de brasileiros, especialmente adolescentes e jovens entre 15 e 24 anos, já usam cigarros eletrônicos. A facilidade de acesso e a influência das redes sociais contribuem para essa disseminação.
Ariane alerta para o risco entre crianças e adolescentes, classificando o consumo como um ataque direto ao futuro deles.
O apelo visual dos dispositivos, a influência de criadores de conteúdo e a falsa sensação de segurança são fatores que atraem o público jovem. Especialistas recomendam o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e educação nas escolas para enfrentar esse problema.