A ansiedade e outros transtornos de humor também foram problemas apresentados como mais frequentes
Um estudo britânico mostra fortes indícios de ligação entre a covid-19 e a ocorrência de problemas neurológicos e psiquiátricos. No artigo, publicado na última edição da revista The Lancet Psychiatry, a equipe de pesquisadores analisou dados de mais de 200 mil indivíduos que tiveram a doença causada pelo novo coronavírus e detectou taxas consideráveis de enfermidades como acidente vascular cerebral (AVC) e demência após a infecção, além de casos de ansiedade e outros distúrbios comportamentais.
Os especialistas usaram registros eletrônicos de 236.379 pacientes de covid, grande parte deles moradores dos Estados Unidos, e avaliaram as informações sobre a condição de saúde coletadas até seis meses depois da infecção pelo Sars-CoV-2. Por meio das observações, constataram que um em cada três sobreviventes da covid-19 (34%) foi diagnosticado com uma condição neurológica ou psiquiátrica no intervalo estudado.
A ansiedade (17%) e outros transtornos de humor (14%) foram os problemas mais frequentes. Os diagnósticos neurológicos, como AVC e demência, foram mais raros, mas não incomuns, em indivíduos que sofreram com a forma mais grave da covid-19. Dos pacientes internado em unidades de tratamento intensivo (UTIs), 7% tiveram um AVC e quase 2% foram diagnosticados com demência.
“Esses são dados do mundo real e de um grande número de pacientes. Eles confirmam as altas taxas de diagnósticos psiquiátricos após a covid-19 e mostram que também ocorrem distúrbios graves que afetam o sistema nervoso, como AVC e demência. Embora os últimos sejam muito mais raros, eles são significativos”, enfatiza Paul Harrison, principal autor do estudo e pesquisador da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Mais estudos
Os cientistas também compararam os dados com taxas de enfermidades neurológicas em pacientes recuperados de outras doenças virais, como gripe ou infecção do trato respiratório, no mesmo período do estudo. “Nossos resultados indicam que doenças cerebrais e transtornos psiquiátricos são mais comuns após a covid-19, mesmo quando pacientes são pareados por outros fatores de risco”, afirma Max Taquet, coautor do artigo e também pesquisador da universidade britânica.
Segundo a equipe, o estudo precisa ter continuidade para que os dados sejam considerados mais sólidos. Os cientistas indicam que é necessário entender se o novo coronavírus tem a capacidade de interferir no cérebro humano, como algumas pesquisas sinalizam. “Agora, precisamos ver o que acontece depois de seis meses. O estudo não pode revelar os mecanismos envolvidos, mas aponta para a necessidade de pesquisas urgentes para identificá-los”, avalia Taquet.