Brasil é o país com mais mortes diárias de coronavírus, enquanto a flexibilização da quarentena avança na Europa
O novo coronavírus matou mais de 350.000 pessoas no mundo e continua avançando na América Latina, especialmente no Brasil, enquanto na Europa a flexibilização do confinamento segue adiante, e a UE revela um plano bilionário de recuperação econômica.
Com 1.039 mortes por COVID-19 nas últimas 24 horas, o Brasil é o país que registra mais vítimas fatais diárias há dois dias, superando os Estados Unidos, cujo balanço diário de terça-feira foi de 657 óbitos.
Com mais de 24.500 mortes e 391.222 contágios oficialmente declarados, o Brasil é o segundo país com mais casos de COVID-19 no mundo e o sexto em número de mortes. Especialistas afirmam que, devido à falta de exames, o número real de infectados pode ser até 15 vezes maior.
Os novos casos diários na América Latina superam os da Europa e dos Estados Unidos, o que tornou o continente latino-americano, “sem nenhuma dúvida”, o novo epicentro da pandemia, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
De acordo com um balanço da AFP com base em fontes oficiais, atualizado nesta quarta-feira, 75% das mortes provocadas pelo coronavírus estão na Europa e nos EUA. Em todo mundo, a COVID-19 infectou mais de 5,5 milhões de pessoas.
Com a economia mundial paralisada, os estragos do coronavírus nas áreas econômica e social são devastadores. Nesta quarta-feira, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) considerou que um em cada seis jovens está sem trabalho por causa da pandemia.
A Comissão Europeia divulga nesta quarta-feira os planos para sair da profunda recessão em 2020, com um fundo de reconstrução de 750 bilhões euros. Para isso, ainda precisa convencer os 27 governantes do continente.
A presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, anunciou um plano muito aguardado, mas fonte de divergências entre os países do norte e do sul do bloco.
Duramente afetadas pela pandemia, Espanha e Itália acusam os países do norte de falta de solidariedade. De acordo com fontes da Comissão, serão as nações mais beneficiadas por este plano.
A divisão se concentra em saber se o apoio aos países mais atingidos pela COVID-19 deve acontecer com empréstimos, como defende a Holanda, aumentando a já volumosa dívida dos primeiros, ou por meio de ajuda direta.
Pedir comida pela primeira vez
A crise de saúde agravou a situação dos mais vulneráveis. De acordo com a ONG Oxfam, a pandemia pode levar 500 milhões de pessoas à pobreza.
Na Espanha, a crise impactou uma economia que já registrava a segunda maior taxa de desemprego da Eurozona, atrás apenas da Grécia, e levou muitas pessoas a pedir comida pela primeira vez na vida.
O país, que nesta quarta-feira iniciou um luto nacional de 10 dias em memória dos mais de 27.000 mortos de COVID-19, avança na flexibilização do confinamento.
Com quase 33.000 mortos, a Itália também está recuperando uma relativa normalidade. Quase todos os monumentos e edifícios mais famosos da península reabriram ao público, entre eles Pompeia, a Basílica de São Pedro em Roma, a Galeria Borghese, os museus da capital, ou as catedrais de Florença e Milão.
Será necessário aguardar até 1o de junho para entrar no Coliseu de Roma, o local turístico mais visitado da Itália, e nos museus do Vaticano.
Em Istambul, o Grande Bazar, um gigantesco mercado coberto, preparava-se para abrir as portas nesta quarta-feira, após o fechamento mais longo de sua história. Seus comerciantes continuam preocupados, porque seu trabalho depende agora do retorno do turismo.
Muitos países pressionam para reativar o turismo, setor-chave em muitas economias e totalmente paralisado com a pandemia.
Neste sentido, a Itália pede uma retomada coordenada dos deslocamentos na Europa a partir de 15 de junho, que poderia virar o “Dia D” do turismo, declarou seu ministro das Relações Exteriores, Luigi Di Maio.
Uma igreja de luto
Nos Estados Unidos, o país mais afetado e perto de superar a barreira simbólica de 100.000 mortos, foram registradas menos de 700 mortes em 24 horas, pelo terceiro dia consecutivo, segundo o balanço da Universidade Johns Hopkins.
Em Nova York, a cidade mais atingida pela doença no país, a igreja do pastor Fabián Arias está de luto. A congregação perdeu 44 fiéis em dois meses, devido ao coronavírus. Pelo menos 90% deles são imigrantes latinos.
Em meio à tragédia, este pastor luterano argentino que denuncia as desigualdades exacerbadas pela administração Trump estabeleceu uma rede para alimentar mais de 500 famílias por semana. Por causa do desemprego gerado pela pandemia, elas não têm o que comer.
“Não queremos que as pessoas morram. Queremos que as pessoas possam viver com dignidade”, declarou o pastor, que participou de 20 funerais para vítimas do vírus, inclusive nas residências das vítimas, quando a família não tem condições de pagar por uma funerária.
Se os números parecem estáveis nos Estados Unidos, na América Latina, os balanços diários de mortes continuam aumentando.
A propagação do coronavírus está “acelerando” no Brasil, no Peru e
no Chile, advertiu a OPS, que defende a continuidade das medidas de contenção.
O Peru registrou mais de 5.000 novos casos confirmados de COVID-19 em 24 horas, um recorde, o que eleva para 130.000 o número de contágios no país. O número de óbitos passa de 3.780.
O México superou 8.000 mortes por coronavírus, número que o governo havia calculado que seria o máximo de vítimas fatais no país durante a pandemia.
Na Venezuela, o governo de Nicolás Maduro anunciou que até domingo passado o vírus deixou 1.121 contagiados e dez mortos neste país de 30 milhões de habitantes.
Os dados foram chamados de falsos e “absurdos” pela ONG Human Rights Watch (HRW) e pela Universidade Johns Hopkins.
“Acreditamos que os números, as estatísticas divulgadas pelo governo da Venezuela, as estatísticas de Maduro, são absolutamente absurdas e não são confiáveis”, afirmou o diretor da HRW para as Américas, José Miguel Vivanco.
Uma estimativa conservadora situaria a quantidade de mortos pelo vírus no país em “pelo menos 30.000”, segundo a Universidade Johns Hopkins.