Além da corrida pela vacina, da responsabilidade pelas queimadas e da pressão sobre a China, é mais um tema que deve escancarar as diferenças na campanha
A eleição americana que já estava quente ficou ainda mais neste início de semana. A morte da juíza Ruth Baber Ginsburg, aos 87 anos, dará a Donald Trump a chance de nomear um juiz conservador para a Suprema Corte, o que pode consolidar uma maioria de 6 a 3 no colegiado. Seria o suficiente para moldar a pauta de costumes no país por décadas.
A nomeação de um juiz à Suprema Corte é um evento dos mais importantes nos Estados Unidos. Ginsburg foi nomeada em 1993 pelo então presidente Bill Clinton após uma longa série de entrevistas com candidatos. No documentário A Juíza ela brinca que teve ter sido a vigésima segunda ou vigésima terceira opção.
Agora, Trump deve ter apenas algumas horas para fechar seu nome, uma vez que as eleições de 3 de novembro se aproximam. Segundo o jornal The New York Times, o presidente pretende fazer a nomeação já nesta terça-feira, pressionando o Senado a ratificar a escolha. Além da corrida pela vacina, da responsabilidade pelas queimadas, da influência russa e da pressão sobre a China, é mais um tema que deve escancarar as diferenças entre os candidatos.
Apesar da maioria republicana na Casa (53 a 47), há questionamentos sobre se a pressa é o melhor caminho neste caso. Um grupo de apoiadores de Trump defende até que a escolha fique para depois das eleições e que a campanha republicana jogue com isso para convencer os eleitores a sair de casa para votar. Uma pesquisa feita pela Reuters e pela Ipsos mostra que 62% dos americanos acreditam que a vaga para a Suprema Corte deve ser preenhcida pelo vencedor de novembro.
Oito em cada dez democratas preferem esperar e o candidato Joe Biden afirmou ontem que, caso vença as eleições, a nomeação de Trump deve ser cancelada. Ele já havia prometido nomear uma mulher negra para o cargo. Biden, curiosamente, era o líder do Senado na época da nomeação de Ginsburg, e testemunhou a chegou da segunda mulher à corte à época, uma forte defensora da igualdade entre os sexos que virou ícone pop nos últimos anos por seus votos dissidentes contra uma corte já majoritariamente conservadora.
“Dois terços dos eleitores americanos acreditam que uma das responsabilidades mais importantes do presidente é escolher os membros da Suprema Corte. Em um ambiente super polarizado isso ganha um degrau ainda maior de relevância”, diz Maurício Moura, fundador do instituto de pesquisas IDEIA, que tem feito pesquisas sobre a eleição americana para a EXAME. “Com um enorme contingente de votos pelo Correio sendo aguardados, o resultado final da eleição pode acabar na Suprema Corte, assim como aconteceu em 2000. É mais uma peça num xadrez complexo para a campanha”.