IDIANA TOMAZELLI
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
Os trabalhadores dos Correios estão planejando rejeitar a oferta de reajuste salarial apresentada pela empresa durante o processo de conciliação no Tribunal Superior do Trabalho (TST). Há uma possibilidade real de greve nacional a partir da noite de terça-feira (23).
Na semana anterior, 12 sindicatos de 9 estados aprovaram greve por tempo indeterminado, enquanto outros 24 continuam em estado de alerta. A greve já começou em estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, mas as agências ainda funcionam normalmente graças ao remanejamento de funcionários pela estatal.
Os representantes dos empregados consideram a proposta de aumento salarial e benefícios insuficiente. Já a empresa enfrenta dificuldades financeiras e busca modificar cláusulas que garantem benefícios acima do que é previsto pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Este impasse pode resultar em um dissídio coletivo, onde a Justiça do Trabalho estabelece as condições para a categoria.
O presidente do TST, ministro Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, convocou os membros da Seção Especializada em Dissídios Coletivos (SDC) para estarem prontos para um julgamento rápido, mesmo durante o recesso do Judiciário. Essa ação mostra a prioridade dada ao caso.
O tribunal ressaltou que a convocação visa evitar que a greve, mesmo que restrita, prejudique serviços importantes no país durante o período das festas de fim de ano.
Na segunda-feira (22), a diretoria executiva dos Correios tinha planejado uma coletiva para apresentar o plano de reestruturação da empresa, que inclui ajustes em troca de um empréstimo de R$ 12 bilhões garantido pelo Tesouro Nacional. Contudo, a entrevista foi adiada e sem nova data, pois o contrato ainda está em análise jurídica e a iminência da greve pesa na decisão.
O secretário-geral da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos (Fentect), Emerson Marinho, afirmou que a direção da entidade e o comando nacional de negociação decidiram orientar as assembleias a aprovarem a greve, que poderá começar às 22h de terça-feira nos locais com terceiro turno e à meia-noite de quarta-feira (24) nos demais.
Segundo Marinho, a proposta apresentada pelo vice-presidente do TST, ministro Caputo Bastos, não atende às expectativas dos trabalhadores, motivo pelo qual será recomendada a rejeição e a deflagração da greve.
Na última quinta-feira (19), a ministra do TST Kátia Magalhães Arruda determinou que os sindicatos que já entraram em greve mantenham 80% dos trabalhadores ativos em cada unidade e garantam o livre trânsito de pessoas, bens e encomendas. O descumprimento dessa ordem acarreta multa diária de R$ 100 mil por sindicato.
A proposta de acordo prevê o fim do ponto por exceção para carteiros a partir de 1º de agosto de 2026, cláusula que atualmente paga hora extra caso haja horas além da jornada, mas não exige compensação quando o trabalhador sai mais cedo. A empresa acredita que isso diminui a produtividade, pois não é possível controlar se correspondências não entregues se devem à ausência dos destinatários ou a jornada insuficiente.
Também está prevista a redução da hora extra tripla (200% de adicional) em domingos e feriados para o adicional convencional de 100%, conforme a CLT, a partir de agosto de 2026. A bonificação anual conhecida como “vale-peru”, de R$ 2.500, não está incluída na nova proposta.
Por outro lado, os Correios concordaram em manter o adicional de 70% sobre as férias, superior ao mínimo legal de um terço.
Quanto ao reajuste salarial, a oferta prevê aumento de 5,13% a partir de abril de 2026, com efeito retroativo a janeiro, e um novo reajuste em agosto de 2026, baseado na inflação dos 12 meses anteriores. O acordo teria validade de dois anos, se aprovado.

