Cinco pessoas moram no imóvel de três cômodos e dizem não ter sido testadas para coronavírus. IML afirma que recolheu corpo 2 horas após ser chamado; Secretaria de Saúde explica que família só fará testes se apresentar sintomas.

Após enterrar o pai, nesta quinta-feira (23), um morador da Estrutural – uma das regiões mais pobres de Brasília, a 15 quilômetros da Praça dos Três Poderes – lembra os momentos de angústia que a família enfrentou. Segundo ele, durante cinco horas, o corpo do homem de 85 anos, que de acordo com a Secretaria de Saúde morreu vítima do novo coronavírus, ficou na casa de três cômodos, onde moram cinco pessoas. O filho do idoso, que preferiu não se identificar, afirmou que ninguém da família fez testes para saber se estava infectado. A Secretaria de Saúde informou que a família só será testada se apresentar sintomas do coronavírus.
“A recomendação é que fiquem em isolamento”, disse Saúde.O autônomo, de 34 anos, contou que foi ele quem encontrou o pai morto na cama, no fim da manhã de quarta-feira (22). De acordo com o filho, o corpo ficou das 12h às 17h, dentro da casa, a espera do Instituto Médico Legal (IML).”Foi um desespero ver a cena. Estava em casa com minha mulher e meus dois filhos.
“A Polícia Civil do DF, responsável pelo IML, disse que a família comunicou a morte do idoso às 14h47 de quarta-feira e informou ao Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) da Secretaria da Saúde. Segundo a corporação, o corpo foi recolhido às 16h15.
Já a Secretaria de Saúde diz que o idoso morreu entre 8h e 11h30 e que o corpo chegou no SVO às 17h40. A pasta alega que o idoso tinha histórico de pneumonia e tuberculose, por isso o Serviço de Verificação de Óbitos foi até a residência e “realizou a coleta para exame laboratorial para Covid-19, conforme orientações do Ministério e da Secretaria da Saúde”.
Pelos números do governo do DF, este é o segundo caso de morte pela Covid-19 que ocorre dentro de casa. O primeiro foi no dia 15 de abril, quando um homem de 69 anos faleceu, no Riacho Fundo.
De acordo com o filho do idoso morto na Estrutural, ele, a esposa, uma neta de 14 anos e o neto mais novo, de 1 ano e 6 meses, tiveram contato direto com a vítima, já que todos moravam juntos.
“Eu tô preocupado com a minha família.”
Nenhum sintoma
O autônomo contou ainda que, na semana passada, o pai foi levado ao Hospital Regional do Guará (HRGu) com suspeita de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Mas, acabou liberado e voltou para casa, na Estrutural.”Antes disso, ele nunca teve nenhum sintoma da doença [Covid-19].”O homem falou que a família não recebeu nenhum resultado de exames afirmando que o pai havia dado positivo para a Covid-19. “A gente quer a autópsia”, ressaltou.
Família de baixa renda
O enterro do idoso ocorreu no Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul de Brasília. O sepultamento foi social, oferecido pelo Governo do DF, porque a família é de baixa renda.O filho do idoso disse que entrou com pedido de auxílio emergencial do governo federal, porque está sem trabalho. No entanto, o benefício foi negado porque os dados informados estariam “incorretos”.
“Eu preciso, tenho dois filhos pra criar.”
Mortes no DF por coronavírus, segundo o GDF, até 23 de abril
- 23 de março: mulher de 61 anos
- 29 de março: homem de 77 anos
- 31 de março: homem de 73 anos
- 1º de abril: homem de 82 anos
- 2 de abril: homem de 50 anos
- 2 de abril: mulher de 77 anos
- 3 de abril: mulher de 61 anos
- 3 de abril: homem de 67 anos
- 3 de abril: mulher de 61 anos
- 4 de abril: homem de 84 anos
- 5 de abril: homem de 37 anos
- 5 de abril: homem de 49 anos
- 8 de abril: mulher de 81 anos
- 9 de abril: mulher de 76 anos
- 12 de abril: homem de 78 anos
- 12 de abril: homem de 94 anos
- 13 de abril: homem de 54 anos
- 14 de abril: mulher de 73 anos
- 14 de abril: mulher de 79 anos
- 15 de abril: homem de 69 anos
- 15 de abril: homem de 87 anos
- 15 de abril: mulher de 57 anos
- 16 de abril: mulher de 84 anos
- 17 de abril: mulher de 60 anos
- 22 de abril: homem de 101 anos
- 22 de abril: homem de 85 anos
