Com as previsões de inflação acima do alvo, pressionada pela alta demanda, o Comitê de Política Monetária (Copom) estima que a taxa básica de juros, a Selic, ficará em 15% ao ano por um longo período. Essa avaliação está registrada na ata divulgada nesta terça-feira (24) pelo Banco Central.
O recente aumento da Selic em 0,25 pontos percentuais, passando de 14,75% para 15%, deve ser temporariamente suspenso para avaliar se esse patamar mantido por um período prolongado é suficiente para garantir que a inflação converja para a meta, conforme indica o documento.
Segundo o comitê, os indicadores centrais da inflação permanecem por meses acima do valor compatible com o alcance da meta, reforçando a ideia de que a inflação permanece pressionada pela demanda e exige uma política monetária restritiva por um período significativo.
Inflação
O Copom considera que a desancoragem das expectativas de inflação representa um desconforto que requer uma política monetária mais restritiva e prolongada. No curto prazo, embora o cenário inflacionário continue desafiador, houve recentes surpresas positivas em relação a previsões anteriores, especialmente no comportamento dos preços dos alimentos, que mostraram uma dinâmica mais fraca do que o esperado.
Controle da inflação
A Selic é a principal ferramenta do Banco Central para controlar a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em maio, o IPCA registrou alta de 0,26%, com aumento de preços em alguns alimentos e energia, acumulando 5,32% em 12 meses, acima do teto da meta contínua.
Desde janeiro, o sistema de metas de inflação é contínuo, com meta de 3% e intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, o que significa limites entre 1,5% e 4,5%. A apuração é mensal, considerando a inflação acumulada nos últimos 12 meses, com análise contínua ao longo do tempo.
Cenários e riscos
Para suas decisões, o Copom analisa diferentes cenários. O cenário externo é avaliado como adverso e incerto devido à conjuntura nos Estados Unidos, principalmente em termos de políticas comercial e fiscal, somado a tensões geopolíticas, como a crise no Oriente Médio que afeta o preço internacional do petróleo. Tais fatores exigem cautela, principalmente para países emergentes.
Internamente, o cenário mostra algum dinamismo nos indicadores econômicos e do mercado de trabalho, embora com sinais de moderação no crescimento.
O comitê também considera os riscos externos e internos, destacando a volatilidade do cenário internacional e os impactos geopolíticos no Oriente Médio, que influenciam decisões de investimento e consumo. Movimentos abruptos no mercado cambial têm exigido cuidado na política monetária.
Crescimento econômico e mercado de trabalho
A ata destaca que o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre mostrou crescimento forte nos setores menos sensíveis à economia, especialmente na agropecuária, com moderação em outros setores, ainda que com algum dinamismo em certas áreas. Indicadores recentes de comércio, serviços e indústria apontam para um crescimento mais moderado, enquanto a confiança se mantém baixa.
Os dados recentes confirmam um mercado de trabalho dinâmico, com significativa geração de empregos formais e queda da taxa de desemprego, refletindo em melhores condições de renda para os brasileiros. O crédito permanece ativo nos últimos trimestres, impulsionado pelo dinamismo econômico e de trabalho.
Decisão do Copom
O Copom concluiu ser necessária a elevação da Selic em 0,25 ponto percentual para 15%, considerando a resiliência da economia, que dificulta a convergência da inflação à meta, e a necessidade de maior rigidez na política monetária. Atingir o efeito pleno dessa política requer tempo devido à defasagem nos impactos.
Após um rápido ciclo de elevação de juros, o Comitê decidiu interromper a alta para observar os efeitos da política, avaliando se a taxa atual é adequada para assegurar a convergência da inflação ao objetivo estabelecido.