DIEGO FELIX
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu nesta quarta-feira (17) manter a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano, valor que permanece o mais elevado dos últimos 19 anos. Apesar da boa notícia nas estatísticas econômicas recentes, o banco central adotou uma postura firme, indicando que pode rever os juros no curto e médio prazos.
Economistas acreditam que este é um momento para que o Banco Central flexibilize sua política de juros. Essa flexibilidade é necessária devido à desaceleração da inflação e à valorização do real, impulsionada pela queda dos juros nos Estados Unidos, anunciada pelo Federal Reserve (Fed) mais cedo.
Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, explicou que o Copom manteve seu posicionamento da reunião anterior, sem sinais de redução dos juros para as próximas reuniões. Segundo ele, os juros devem permanecer estáveis até o começo do próximo ano.
Ele complementou que, mesmo com a taxa alta, a inflação ainda não se alinha com a meta estabelecida pelo Banco Central, reforçando que nenhuma mudança estratégica foi sinalizada.
No setor produtivo, a crítica é que os juros altos dificultam o crescimento sustentável. No entanto, a expectativa geral é que o banco central dificilmente eleve os juros novamente.
Felipe Queiroz, economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (Apas), afirmou que uma coordenação entre o governo e o Banco Central seria ideal para uma política econômica que minimize os impactos negativos e favoreça o crescimento sustentável.
A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) destacou que a Selic alta trava a economia ao dificultar o acesso ao crédito, especialmente para o varejo de produtos mais caros. Segundo o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, essa situação prejudica a competitividade das empresas brasileiras em relação às internacionais.
Gustavo Casseb Pessoti, conselheiro federal do Conselho Federal de Economia (Cofecon), criticou a decisão do Copom e apontou que a taxa atual limita o crescimento econômico, afetando todo o mercado financeiro.
O Copom comunicou que continuará avaliando se a manutenção dos juros elevados é suficiente para alcançar a meta de inflação de 3% ao ano e alertou que pode retomar o aumento dos juros, se necessário. A projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no começo de 2027 permanece em 3,4%.
Caio Megale, economista-chefe da XP, reforçou que as projeções indicam uma inflação ainda acima da meta, o que justifica a manutenção da política monetária rigorosa.
Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, interpretou a decisão como uma tentativa do Banco Central de consolidar a queda da inflação antes de começar a reduzir os juros.
Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, classificou o comunicado do Copom como rigoroso, dificultando uma mudança rápida na política de juros e ressaltando o risco fiscal como um fator de cautela.
Por fim, a redução dos juros nos Estados Unidos pelo Fed pode influenciar as próximas decisões do Copom, favorecendo o fortalecimento do real e incentivando a entrada de capital estrangeiro. Ainda assim, a inflação brasileira permanece acima da meta, com núcleos inflacionários ainda pressionados, conforme destacou o estrategista-chefe da GCB Investimentos, Lucas Constatino.