O Comitê de Política Monetária (Copom) deve indicar que a taxa Selic continuará em um patamar alto por um longo período na reunião marcada para quarta-feira, dia 5. Porém, é possível que o Copom faça uma pequena redução nas suas previsões de inflação até 2027.
Especialistas do mercado financeiro acreditam que essa revisão faz sentido devido à melhora nas expectativas de inflação e aos dados mais positivos recentes referentes à inflação.
Desde a última reunião, a previsão mediana para a inflação em 2025 caiu de 4,83% para 4,55% — ligeiramente acima do limite da meta, que é 4,50%. Para 2026, a estimativa diminuiu de 4,30% para 4,20%, ainda acima do objetivo central de 3,0%. O índice IPCA-15 de outubro também mostrou desaceleração, ficando em 0,18%, ante 0,48% em setembro.
“Qualquer ajuste é positivo pois indica que os dados recentes estão influenciando as projeções”, afirma a economista-chefe do PicPay, Ariane Benedito.
Na reunião anterior, em setembro, o Copom manteve a previsão de inflação para o primeiro trimestre de 2027 em 3,4%, contrariando expectativas de redução. O banco central apenas ajustou a estimativa para a inflação de 2025 de 4,9% para 4,8%. A previsão para 2026 ficou em 3,6%.
Ariane Benedito interpreta essa decisão como um recado firme do Copom, indicando que se o Banco Central não controla sua própria inflação, o mercado também não vai fazer isso.
O banco Santander estima que a projeção para o horizonte relevante deve cair para 3,3%, mas seu chefe de política monetária, Marco Caruso, acredita que o Copom pode agir com cautela para não sugerir cortes de juros prematuros.
A economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Natalie Victal, observa que ainda não foram considerados possíveis impactos da isenção do Imposto de Renda no cenário. A expectativa é que o Copom aguarde o Senado aprovar esse projeto para incorporar esses efeitos.
Natalie Victal destaca que, sem incorporar o impacto do IR, manter a projeção seria um sinal de que o banco central mantém uma postura mais rigorosa em relação à alta dos juros.
O economista-chefe da ARX Investimentos, Gabriel Barros, acredita em uma pequena alteração nas estimativas nesta reunião, deixando mudanças maiores para dezembro.
Selic alta por longo período
O consenso entre os analistas é que a Selic ficará em 15% na próxima reunião e que a taxa deve se manter nesse nível até o fim do ano. Essa mensagem já foi reforçada por membros do Copom, incluindo o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.
Para os especialistas, o Copom deve repetir o tom da reunião de setembro, considerando os dados recentes positivos sobre inflação e atividade econômica, embora exista incerteza para o próximo ano, principalmente por fatores fiscais no Brasil e pela política monetária dos EUA.
Ariane Benedito projeta que os cortes na Selic poderão começar em março, com reduções de 0,50 ponto percentual. Ela explica que faz sentido esperar um pouco mais para confirmar a tendência de queda da inflação e evitar choques vindos do câmbio e preços internacionais.
A economista estima que a Selic poderá cair até 12%, podendo até chegar a 11,75%, dependendo da evolução dos indicadores econômicos.
O cenário do SulAmérica Investimentos é similar, prevendo cortes a partir de março e uma Selic terminal de 11,50%, com possibilidade de números um pouco mais altos devido à resiliência da economia e incertezas fiscais e internacionais, conforme a analista Natalie Victal.
Gabriel Barros prevê um corte inicial menor em janeiro, seguido de reduções maiores a partir de março, até atingir 12%. Ele ressalta que as eleições podem influenciar o ritmo dos cortes, pois a escolha do candidato impacta câmbio e juros. Ele acredita que até março essas dúvidas estarão esclarecidas para o Banco Central decidir os próximos passos.
Estadão Conteúdo
