NATHALIA GARCIA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
O Comitê de Política Monetária (Copom) provavelmente vai manter a taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano na próxima reunião, marcada para quarta-feira (17). Além disso, espera-se que o tom das declarações do comitê fique mais moderado, diante dos sinais positivos recentes da economia.
No encontro anterior, realizado em julho, o Banco Central interrompeu a sequência de aumentos da Selic, que está no maior nível desde 2006, e usou uma linguagem mais cautelosa em relação aos próximos passos, indicando que o ciclo de altas estava suspenso.
Economistas consultados acreditam que agora o Copom expressará mais confiança de que manter a taxa vigente por um período prolongado será suficiente para controlar a inflação e levá-la de volta à meta oficial.
De acordo com as projeções do próprio Banco Central, a inflação só deve ficar abaixo do teto da meta a partir do fim do primeiro trimestre de 2026.
O Banco Central tem como objetivo central manter a inflação em 3%. O sistema de metas prevê como descumprida a meta quando a inflação acumulada permanece por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% a 4,5%.
Em junho, foi registrado o primeiro estouro do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) desde o início da aplicação do novo formato em janeiro deste ano.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, avalia que os dados recentes indicam uma melhora na economia doméstica, com inflação caindo lentamente e desaceleração da atividade econômica, resultado do esforço do Banco Central para conter a demanda e controlar os preços.
Em agosto, o IPCA registrou a primeira deflação (queda) em um ano, impulsionada pela redução nos preços da eletricidade, gasolina e alimentos. No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação está em 5,13%.
Vitória também destacou a mudança no cenário externo, com perspectiva de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, no que ficou conhecido como “superquarta” — quando Brasil e EUA anunciam decisões sobre juros no mesmo dia.
Essa situação contribui para a valorização do câmbio, o que pode aliviar futuras pressões inflacionárias, especialmente sobre bens e alimentos.
Em julho, o dólar considerado pelo Copom para suas projeções estava em R$ 5,55. Recentemente, a moeda norte-americana fechou em R$ 5,353, o menor valor desde junho do ano passado, beneficiada por entrada de capital estrangeiro.
A melhora do câmbio abre caminho para que o Copom possa iniciar o processo de redução dos juros em dezembro. Vitória observa que, ao começar a retirar a política restritiva a partir desse mês, a economia tende a evitar uma estagnação em 2027.
Contudo, o início da queda dos juros pode ser adiado caso haja aumento nos riscos fiscais, como maior gasto público e demanda aquecida, segundo Vitória.
Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e presidente do conselho da Jive Investments, destaca a situação preocupante das contas públicas, com salto no déficit nominal e aumento do ritmo de crescimento da dívida pública. Ele, entretanto, considera improvável que a situação fiscal piore ainda mais.
Um dos principais riscos apontados por Figueiredo é a possibilidade de novas tarifas impostas pelos Estados Unidos, possivelmente motivadas por tensões políticas recentes, como a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Ele destaca que a postura do presidente Luis Inácio Lula da Silva em relação a Donald Trump pode gerar incertezas e até mais pressão comercial dos EUA sobre o Brasil.
Apesar desses riscos, Figueiredo vê o cenário geral em direção a uma possível flexibilização da política monetária no futuro próximo.
Ele calcula que o começo da redução dos juros pode ocorrer já em janeiro de 2026, um adianto em relação à projeção anterior.
André Muller, economista-chefe da AZ Quest, afirma que o Copom deve reconhecer a melhora da economia nos últimos 45 dias e ajustar seu discurso para afastar a possibilidade de retomada do ciclo de alta dos juros.
Segundo Muller, a inflação tem apresentado menor pressão do que o previsto pelo próprio mercado e pelo comitê, aumentando a confiança na eficácia da política monetária.
Ele ressalta, contudo, que o Copom deve manter uma postura conservadora para melhorar as expectativas de inflação, que ainda estão afastadas da meta e são motivo de preocupação para os membros do comitê.
Conforme o relatório Focus, os analistas projetam que a inflação termine 2026 em 4,3%, enquanto para 2027 a expectativa mediana recuou para 3,93%, refletindo o efeito defasado da política de juros sobre a economia.