JORGE ABREU
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Observatório do Clima, uma rede com mais de cem ONGs ambientais, publicou um comunicado nesta terça-feira (12) criticando os governos federal e estadual pela forma como estão organizando a COP30, a conferência do clima da ONU que será realizada em Belém em novembro.
O grupo aponta que a crise de hospedagem causada pelos altos preços para o período do evento dominou as discussões, deixando de lado questões importantes como as ameaças do ex-presidente dos EUA Donald Trump ao clima e à economia global, os recordes de calor no hemisfério Norte e o aumento da temperatura da Terra, que pode ultrapassar 1,5°C, meta do Acordo de Paris.
“Sem uma solução rápida para a crise, a COP no Brasil pode ser a mais excludente da história, com menos delegações nacionais, membros de órgãos oficiais, observadores e imprensa”, diz a carta.
“O governo federal e o do Pará tiveram dois anos e meio para resolver o problema da hospedagem na cidade e não fizeram nada, transformando isso em uma bomba relógio que agora explode, com países pedindo para mudar a sede e observadores da sociedade civil dizendo que não conseguirão participar.”
A organização da COP30 e o Governo do Pará não responderam às críticas até o momento da publicação.
A rede alerta que um evento com menos participantes seria um fracasso histórico para o Brasil e uma oportunidade perdida para a humanidade alcançar novos acordos em benefício do planeta. Outra preocupação é o possível boicote de países por causa dos altos custos de hospedagem.
“Menos delegados afetaria a legitimidade das decisões em Belém, dando motivo para países contrários ao Acordo de Paris prejudicarem as negociações”, afirmam.
“O governo teve tempo para construir hotéis, trazer navios e atender às necessidades do evento, mas fez menos do que o necessário. A população local, que mostrou muita paciência, está sendo culpada injustamente pelos preços abusivos das acomodações”, critica a rede de ONGs.
A presidência da COP30 divulgou uma carta defendendo união entre os países e ressaltando a importância de realizar a conferência no “coração da Amazônia”. O documento menciona grupos historicamente marginalizados como os mais afetados pelas mudanças climáticas, mas também como protagonistas das soluções para enfrentar esses desafios.
A carta foi preparada antes do aumento recente nos preços da hospedagem em Belém.
De acordo com reportagem da Folha, vários países, ricos e em desenvolvimento, pressionaram o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para mudar a sede da COP30, alegando que os altos custos de estadia impedem países com economias menores de participar.
Em entrevista ao podcast Café da Manhã, Corrêa do Lago reconheceu que se os preços altos afastarem delegações, os acordos da conferência poderão perder credibilidade.
O primeiro político a desistir do evento por causa dos custos foi o presidente da Áustria, Alexander van der Bellen, que anunciou que não comparecerá, sendo representado pelo ministro do Meio Ambiente, Norbert Totschnig, e outros negociadores.
Hotéis de Belém há dois meses se recusam a passar informações ao Ministério da Justiça sobre os preços para o período da conferência.
Sites de aluguel por temporada afirmam que os valores são definidos pelos proprietários dos imóveis, enquanto a associação dos hotéis defende ter oferecido diárias mais baixas para delegações a pedido da organização do evento.