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sexta-feira, 21/11/2025




COP30: mais de 30 países ameaçam bloquear acordo do Brasil

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Em Brasília

Mais de 30 nações consideraram inadequado, nesta quinta-feira (20/11), o projeto de acordo submetido pela presidência brasileira da COP30 e solicitaram a inclusão de um plano para eliminar o uso de energias fósseis, conforme carta divulgada pela delegação da Colômbia.

O presidente da Conferência, o diplomata brasileiro André Corrêa do Lago, enfrenta pressão dos quase 200 países participantes em Belém, onde estão reunidos desde a semana passada, para elaborar um documento que alcance consenso conforme as regras das COPs. Sua última versão do texto, consultada nesta quinta pela AFP, não menciona os combustíveis fósseis.

“Estamos muito preocupados com a proposta atual, que é do tipo aceitar ou rejeitar”, escreveram Colômbia, França, Reino Unido, Alemanha e outras nações em carta disponibilizada pela delegação colombiana e acessada pela AFP.

A França e a Bélgica confirmaram apoio ao documento.

“Devemos ser sinceros: na forma como está, a proposta não atende aos requisitos básicos para um resultado confiável nesta COP”, continuam os países.

Fogo na Conferência

O incêndio que atingiu a Conferência do Clima da ONU em Belém comprometeu uma etapa crucial das negociações para um acordo. A sexta-feira está oficialmente marcada como o último dia da COP30, mas o evento deverá se estender.

A partir das 14h, quando iniciou o fogo e os participantes foram evacuados, as negociações oficiais foram suspensas, pois só podem ocorrer dentro da chamada Zona Azul, onde ocorreu o incêndio.

No entanto, durante a tarde, as reuniões informais continuaram a todo vapor, pois a presidência brasileira da COP30 queria aproveitar cada momento dessa reta final. Após verificações de segurança, após as 20h, os participantes retornaram ao local, mas a área afetada pelo fogo permaneceu isolada.

Prorrogação da COP30

Devido aos imprevistos, é improvável que a conferência termine nesta sexta-feira conforme planejado, indicou a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. “A COP vai acabar no momento certo da negociação”, declarou ao retornar ao Centro de Convenções Hangar.

“O foco não é simplesmente concluir dentro do prazo, mas alcançar um resultado eficaz sobre a mudança climática”, completou.

Mesmo sem contratempos, as COPs raramente encerram no prazo oficial. A mais longa foi a de Sharm el-Sheikh, em 2023, que só terminou na manhã de domingo.

A grande incógnita em Belém é a disposição dos diplomatas para retomarem as conversas após o incidente perturbador, somado a várias reclamações sobre a organização da COP30 pela própria ONU. Esta foi a primeira vez que um incêndio interrompe as negociações dentro da área oficial.

Dificuldades nas negociações

Em entrevista à CNN Brasil, Corrêa do Lago admitiu que “muitos pontos ainda estão pendentes” e que as negociações estão “extremamente desafiadoras”. O incêndio ocorreu em um momento em que as expectativas sobre os avanços já eram baixas.

O atraso é um mau sinal, indicando difícil consenso entre os 195 países. Pouco antes do fogo atingir o estande da Comunidade da África Oriental, começaram a surgir relatos de remoção do plano para redução da dependência de combustíveis fósseis no documento. A presidência da COP30 teria desistido desta meta, embora pudesse ter um impacto histórico.

Os discursos do presidente Lula defendendo um “plano para a redução das fontes fósseis”, principais causadoras do aquecimento global, geraram esperanças na conferência, embora o tema não estivesse na agenda oficial.

Tudo indica que as divisões profundas não foram superadas, tanto entre os países da COP30 quanto internamente no Brasil.

Resistência internacional

Países fortemente dependentes dessas energias, como potências do Golfo, resistem fortemente, mas não são os únicos. Nações africanas também se opõem a qualquer compromisso sobre a redução sem garantias financeiras para isso. Os Estados Unidos, apesar da ausência, podem ter exercido influência contrária, historicamente um dos principais obstáculos às negociações climáticas.

Em entrevista à GloboNews, Corrêa do Lago disse que mais de 80 países rejeitam a inclusão desse tema no texto final, mas que a discussão já teve grande impacto e poderá gerar consequências significativas. “A ausência no texto não significa que o tema perdeu relevância”, destacou.

Temas complementares

Com o foco nas fontes fósseis, ambientalistas e observadores temiam que outros temas importantes fossem comprometidos, como a implementação dos planos climáticos, adaptação às mudanças e transição justa para uma economia de baixo carbono.

Agora, a delegação brasileira reforça sua mobilização para que esta seja a “COP da implementação”, focando em soluções para o financiamento. Os temas são interligados: países em desenvolvimento buscam garantias de recursos, e os desenvolvidos querem transparência e clareza no uso dos fundos.

“Nosso objetivo é manter o ritmo intenso dos trabalhos, tomando o tempo necessário para concluir negociações e alcançar os melhores resultados em financiamento, mitigação, adaptação, indicadores e outras pautas essenciais como gênero, sinergia entre convenções e justiça climática”, explicou Marina Silva.

“A concretização desses resultados, tornando esta a COP da verdade e da implementação, dependerá dos 196 países presentes, pois não é um processo unilateral”, finalizou.




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