São Paulo, 09 – As empresas do setor de construção ainda não estão preparadas para as mudanças que a reforma tributária vai trazer. Isso pode causar atrasos nos lançamentos futuros e dificuldades para definir corretamente os custos e preços dos projetos. Líderes de associações empresariais discutiram essa preocupação em evento recente.
“Tenho a impressão de que as empresas estão começando a entender o assunto só agora. Elas não perceberam a complexidade e os desafios que terão”, alertou Ely Wertheim, presidente executivo do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi). “É urgente que as empresas se preparem para evitar erros que podem resultar em multas e fiscalizações. O tempo para se preparar já passou”, completou, destacando o risco de atrasos em projetos futuros.
Luiz França, presidente da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), destacou que a reforma tributária vai tornar o setor mais complexo, principalmente pela substituição do Regime Especial de Tributação (RET). “Antes as coisas eram simples, agora ficaram complicadas.”
A reforma tributária foi criada para facilitar o sistema de impostos no Brasil, mas na prática pode aumentar a complexidade e a carga de impostos em operações importantes como a compra, venda e aluguel de imóveis.
Hoje, o setor de construção paga 4% de imposto sobre o faturamento pelo RET, que será extinto com a reforma. Em 2026, durante a fase de transição, as empresas poderão escolher entre manter o RET até a reforma estar consolidada ou adotar o novo sistema de tributação (IBS e CBS), cujas alíquotas ainda não foram definidas.
Luiz França ainda mencionou que algumas empresas participam de um programa piloto da Receita Federal para testar as mudanças na prática e ajudar a definir regras pendentes. “Faremos os cálculos e ajustes necessários para que o modelo seja viável para o mercado”, explicou.
Segundo Wanessa Pinheiro, sócia da consultoria Grant Thornton, a reforma permitirá que incorporadoras recuperem créditos tributários pagos ao longo da cadeia produtiva. Isso deve levar à renegociação de preços com empreiteiros e fornecedores. “Elas poderão separar o que é repasse de imposto e o que é repasse de custo”, exemplificou. “Mesmo sem todas as regras definidas, já é possível planejar estratégias nesta fase de transição.”
York Stefan, presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado de São Paulo (Sinduscon), afirmou que essa recuperação de créditos incentivará a industrialização dos canteiros de obras. Atualmente, as empresas preferem construir diretamente nos canteiros para economizar com mão de obra, já que produtos pré-fabricados são mais caros. Com os descontos nos impostos, isso pode mudar.
“No nosso setor, onde as construtoras ainda não estão preparadas, imagine os empreiteiros e fornecedores, muitos deles nem pensam nas mudanças que virão”, disse York Stefan. “Será preciso educar esses parceiros sobre a nova realidade.”
As declarações foram feitas durante o Fórum Brasileiro das Incorporadoras, organizado pela Abrainc.
Estadão Conteúdo