12.5 C
Brasília
sexta-feira, 27/06/2025




Conflito surge entre Motta e Haddad após derrota no IOF

Brasília
céu limpo
12.5 ° C
12.5 °
10.6 °
94 %
1kmh
0 %
sex
26 °
sáb
27 °
dom
28 °
seg
27 °
ter
27 °

Em Brasília

CATIA SEABRA E VICTORIA AZEVEDO

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

A rejeição do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na retirada do decreto sobre o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) intensificou as tensões entre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Até então considerada amigável, a relação entre os dois já estava abalada desde o começo de junho, quando Motta criticou fortemente a proposta do governo poucos dias após ter considerado histórica a reunião em que o ministro a apresentou.

A decisão do presidente da Câmara de divulgar a votação do decreto pelas redes sociais piorou o clima. Em entrevista à Folha, Haddad afirmou não entender a mudança de posição do deputado.

“Não sei o que ocorreu depois daquele domingo [data da reunião]. Não tenho desavenças com ninguém, minha agenda é para trabalhar e honrar compromissos com o país e o presidente”, declarou o ministro, referindo-se à alteração de comportamento do presidente da Câmara.

Nos últimos dois anos, Motta foi um dos líderes partidários mais próximos do ministro. Contudo, aliados do deputado dizem que hoje há uma quebra de confiança entre eles.

Em conversas privadas, Motta atribui a Haddad as críticas sobre sua conduta na negociação veiculadas pela imprensa recentemente.

Depois de chamar a reunião com o ministro de histórica, Motta passou a questionar a proposta da equipe econômica, levantando dúvidas entre os apoiadores do governo sobre sua postura.

Aliados do presidente da Câmara esclarecem que ele destacou o encontro pela participação de ministros, presidentes da Câmara e Senado e demais líderes, e não pelo conteúdo das medidas, nunca tendo comprometido apoio às propostas.

Além disso, Motta ficou ressentido com os elogios que o ministro fez a seu antecessor, Arthur Lira (PP-AL), durante um jantar em São Paulo; o deputado interpretou o gesto como uma crítica indireta a ele, mesmo sem menção explícita.

Essa tensão foi pauta em reunião recente entre Motta, líderes da Câmara, Gleisi e Rui Costa (Casa Civil). Segundo participantes, o presidente da Câmara reclamou do que chamou de “fogo amigo” vindo do governo federal durante negociações no Congresso, alertando que não toleraria tais atitudes, sem apontar nomes.

Ao saber da insatisfação, Haddad tentou se explicar a Motta, negando qualquer crítica durante o jantar. Relatos indicam que o ministro gravou uma mensagem afirmando não ter feito comentários negativos, que não faz críticas veladas, mas sim expressa opiniões diretamente.

Motta respondeu em áudio sugerindo que ambos deixassem a situação esfriar.

O ministro confirmou à reportagem ter procurado o deputado para esclarecer mal-entendidos, mas sem sucesso. “Não fiz tal referência, ele sabe disso”, disse, preferindo não aprofundar o episódio.

Desde então, o contato entre os dois é quase nulo, e Motta tem evitado chamadas do ministro. Na noite de terça-feira (24), surpreendeu ao anunciar nas redes sociais a votação para derrubar a proposta.

Na quarta (25), a Câmara rejeitou o decreto amplamente, com 383 votos a favor e 98 contra, causando mais um revés para o Palácio do Planalto.

Segundo aliado próximo, hoje não há comunicação entre os dois líderes, embora seja possível retomar o diálogo. Alguns parlamentares, como o líder do MDB, Isnaldo Bulhões Jr. (AL), que tem boa relação com ambos, devem atuar para mediar a situação.

Motta não respondeu aos pedidos de comentário feito pela assessoria.

O presidente Lula tem valorizado as articulações de Haddad em defesa do aumento de impostos, mostrando que o governo quer cobrar mais dos ricos para beneficiar os mais pobres. Porém, ele se mostrou preocupado com os desencontros na estratégia no Congresso, especialmente as mudanças constantes sobre a possibilidade de aprovação.

Inicialmente, Haddad demonstrou otimismo a Lula sobre o apoio parlamentar, mas após Motta anunciar a votação via redes sociais, o cenário mudou.

Ministros do governo comentam, em off, que Haddad foi ingênuo ao esperar o apoio dos parlamentares, lembrando que o Congresso é um campo de oposição a Lula, cujo sucesso depende do desempenho econômico.




Veja Também