A guerra entre Israel e Hamas completa dois anos nesta terça-feira (7/10), em meio a uma nova rodada de negociações de paz no Egito. As delegações israelense e palestina se reúnem em Sharm el-Sheikh para discutir um plano de cessar-fogo elaborado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que prevê a libertação de reféns, a retirada gradual das tropas e uma administração interina em Gaza.
O conflito começou em 7 de outubro de 2023, quando combatentes do Hamas lançaram um ataque surpresa contra Israel, matando cerca de 1.200 pessoas e sequestrando dezenas. A ofensiva levou Tel-Aviv a declarar guerra ao grupo e iniciar bombardeios na Faixa de Gaza.
Gaza devastada e fome reconhecida pela ONU
Enquanto diplomatas negociam no Egito, o cenário em Gaza segue catastrófico. Segundo o divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2025, mais de 61 mil palestinos morreram desde o início da guerra, e 83% das vítimas seriam civis — um número confirmado por dados internos das forças de defesa de Israel, revelados pela mídia internacional.
Em agosto, o Quadro Integrado de Classificação da Segurança Alimentar (IPC), órgão da ONU, declarou oficialmente o estado de fome em Gaza. Mais de 500 mil pessoas enfrentam condições “catastróficas”, com escassez de comida, água e medicamentos.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que “fazer as pessoas passarem fome por objetivos militares é um crime de guerra” e pediu um cessar-fogo imediato.
O governo de Netanyahu negou as acusações, classificando o relatório como “tendencioso” ainda afirmou que “não há fome em Gaza”, atribuindo a crise à “má gestão do Hamas”.
Crianças lidam com a fome devastadora na Faixa de Gaza
Israel redesenha o mapa do Oriente Médio — e perde aliados
Dois anos após os ataques de 7 de outubro, Israel se consolidou como a principal potência militar do Oriente Médio. Em 2025, o país realizou bombardeios cirúrgicos no Irã, na Síria e até no Catar — que abriga o escritório político do Hamas e a maior base militar dos EUA na região. Sendo esse o principal motivo para o Egito ter se tornado a sede das negociações de paz.
Em consequência, as ações aumentaram o isolamento de Tel-Aviv. Países que mantinham relações diplomáticas com Israel — como Emirados Árabes, Bahrein e Marrocos — expressaram desconforto, e o Egito chegou a chamar Israel de “inimigo” em uma reunião de emergência em setembro.
Imprensa sob fogo
O custo humano da guerra inclui também a imprensa. Durante o segundo ano do conflito, o mundo testemunhou a morte de inúmeros jornalistas que cobriam o cotidiano da Cidade de Gaza.
Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), mais de 200 jornalistas foram mortos em Gaza desde outubro de 2023. O episódio mais recente ocorreu em agosto, quando cinco profissionais da rede Al Jazeera morreram em um ataque aéreo israelense.
A ONU classificou as mortes como “violações graves da lei internacional”.
Trump se posiciona como “mediador”
Com a ideia de se colocar como o “presidente da paz”, Donald Trump se colocou como o mediador do conflito em Gaza. Ainda assim, Trump mantém sua aliança com Netanyahu, exigindo “responsabilidade” e “contenção”.
O presidente americano enviou ao Egito seu genro, Jared Kushner, e o enviado especial Steve Witkoff para acompanhar as negociações e garantiu que “há espaço para ajustes” no plano.
O plano de 20 pontos para encerrar a guerra
O chamado Plano de Paz para Gaza foi desenvolvido pela Casa Branca com o apoio de aliados árabes sendo descrito por Trump como “o caminho para o fim definitivo da guerra”.
Dividido em 20 pontos, o documento prevê:
- libertação de todos os reféns israelenses em até 72 horas;
- troca de prisioneiros palestinos;
- suspensão temporária dos bombardeios;
- retirada gradual das forças israelenses da Faixa de Gaza;
- desarmamento completo do Hamas sob supervisão internacional.
Em troca, Gaza seria administrada por um governo de tecnocratas palestinos independentes, sob supervisão de uma coalizão internacional liderada pelos EUA e pelo ex-premiê britânico Tony Blair.
O Hamas, segundo o texto, ficaria excluído da gestão política, mas seus membros desarmados poderiam receber anistia.
Netanyahu condiciona trégua à libertação de reféns
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou no domingo (5/10) que “nenhum outro ponto do plano será discutido” antes que todos os reféns sejam libertos.
Além disso, mesmo durante as negociações, o exército israelense enfatizou que “não há cessar-f0go em vigor” — contrariando declarações anteriores de Netanyahu sobre a redução das operações. Hospitais locais relataram ao menos 70 mortes nesse fim de semana, incluindo crianças e mulheres.
Segundo o exército israelense, ainda há 48 reféns em poder do Hamas, e cerca de 20 estariam vivos. O grupo palestino, por sua vez, confirmou ter aceitado a troca dos prisioneiros e a libertação dos reféns, mas se recusa a discutir o desarmamento.
Perspectivas
Dois anos depois do início da guerra, o balanço é de devastação, isolamento e crise humanitária.
Donald Trump tenta se apresentar como o mediador capaz de encerrar o conflito, mas esbarra na resistência do Hamas a pontos centrais de seu “documento de paz” e no endurecimento das posições israelenses, mantendo o caminho para a paz em aberto.