IDiana Tomazelli
Brasília, DF
Uma disputa interna no governo está complicando o compromisso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de zerar a fila de espera no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Em outubro, o número de pedidos aguardando análise chegou a 2,86 milhões, podendo alcançar 3 milhões até o final do ano.
O aumento é causado por vários fatores, como o crescimento dos pedidos e problemas operacionais da Dataprev, mas a rivalidade entre o Ministério da Previdência Social e o INSS tem atrapalhado as melhorias na gestão dessa fila.
A reportagem conversou com oito pessoas envolvidas nas discussões sobre o problema, que evidenciaram a tensão entre os dois órgãos.
O Ministério da Previdência, liderado pelo ministro Wolney Queiroz, acusa o presidente do INSS, Gilberto Waller Jr., nomeado diretamente por Lula durante uma crise de fraudes, de agir sem coordenação, promovendo sua imagem pessoal em viagens pelo país e ignorando o ministério.
Há especulações de que Waller Jr. possa querer concorrer a um cargo político, o que ele nega, afirmando que as viagens são para conhecer a realidade regional e propor melhorias e que não possui filiação partidária.
Por outro lado, o INSS vê tentativas de prejudicar sua gestão e desconfia de membros do ministério que estavam na pasta durante o escândalo das fraudes nos descontos.
No meio dessa disputa, ficam os trabalhadores que esperam pela análise de seus benefícios. A fila, que já crescia na gestão anterior, atingiu níveis recordes.
O INSS afirma ter tomado medidas como mutirões e a criação de um comitê para enfrentar a fila. O Ministério da Previdência e a Secretaria de Comunicação da Presidência não comentaram.
Um episódio que agravou a situação foi a suspensão do pagamento de bônus aos servidores por falta de recursos. O INSS recebeu recursos para pagar servidores que analisassem processos extras, mas teria priorizado a análise inicial em vez da revisão de benefícios, fazendo com que o dinheiro terminasse mais rápido.
Enquanto o INSS afirma que foi avisado apenas na véspera do fim do dinheiro, técnicos dizem que alertas foram feitos com antecedência.
O assunto chegou a ser discutido no Palácio do Planalto, mas Waller Jr. não compareceu pessoalmente.
Uma crise interna no INSS também apareceu, com acusações recíprocas entre o presidente do instituto e a diretora de Tecnologia da Informação, Lea Bressy. Apesar de tentativas de substituição, ela permanece no cargo.
Um técnico experiente comenta que a falta de diálogo entre o INSS e o Ministério da Previdência afeta até a liberação de acessos essenciais para o trabalho.
Recentemente, Waller Jr. criou um comitê para reduzir a fila de pedidos, mas o Ministério da Previdência reclama da falta de participação nesse grupo e das dificuldades para encontrar soluções conjuntas.

