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quarta-feira, 30/07/2025

Como Wegovy e Mounjaro podem interferir no efeito da pílula anticoncepcional

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Simon Cork, professor de fisiologia na Universidade Anglia Ruskin, Reino Unido, escreveu este artigo publicado na plataforma The Conversation Brasil.

Medicamentos para perda de peso como Wegovy (semaglutida) e Mounjaro (tirzepatida) estão ganhando popularidade entre pessoas que buscam emagrecer. No entanto, devido ao aumento dos chamados “bebês Ozempic”, o órgão regulador de medicamentos do Reino Unido lançou orientações específicas para mulheres em idade fértil.

Essas recomendações surgiram após o órgão receber 40 relatos de gestações não planejadas em mulheres que utilizavam esses medicamentos para emagrecimento. É crucial entender como esses remédios podem impactar a eficácia dos anticoncepcionais orais.

As injeções para perda de peso, incluindo semaglutida e tirzepatida, imitam o hormônio natural GLP-1, liberado pelo intestino após as refeições, que ajuda a reduzir o apetite. A tirzepatida ainda age em outro hormônio natural chamado GIP, que também suprime a fome.

O funcionamento desses medicamentos para controlar o apetite envolve várias ações: eles inibem áreas cerebrais ligadas à fome, reduzindo o aumento do apetite que ocorre durante a perda de peso, e retardam o esvaziamento do estômago.

Embora existam poucos estudos sobre a interação entre os medicamentos que atuam no GLP-1 e os anticoncepcionais orais, o efeito no esvaziamento gástrico pode explicar o motivo pelo qual a pílula pode se tornar menos eficaz.

Um estudo realizado em 2024 mostrou que a tirzepatida diminuiu em 20% a quantidade de etinilestradiol — um componente sintético do estrogênio presente na pílula combinada — na corrente sanguínea. Além disso, aumentou em duas a quatro horas o tempo necessário para a absorção total do etinilestradiol.

Essa redução na absorção compromete a capacidade do anticoncepcional de suprimir o sistema reprodutor feminino, diminuindo sua eficácia. Os efeitos da semaglutida sobre o etinilestradiol foram menos acentuados.

O aumento do tempo para a absorção da pílula provavelmente se deve à desaceleração do esvaziamento gástrico, já que o etinilestradiol é absorvido principalmente no intestino delgado. Por que a tirzepatida tem um efeito mais forte do que a semaglutida ainda não está totalmente claro, mas sabe-se que os impactos da tirzepatida duram mais tempo.

Além disso, efeitos colaterais comuns aos medicamentos do tipo GLP-1 incluem vômitos e diarreia, que podem afetar até 12% e 23% dos pacientes que usam tirzepatida, respectivamente. Esses sintomas podem interferir na absorção de medicamentos orais, inclusive anticoncepcionais, pois o registro desses remédios pode ser eliminado do organismo antes de serem absorvidos.

Por isso, mulheres que tomam pílula e apresentam esses sintomas devem usar um método contraceptivo alternativo para evitar gravidez não desejada.

Outro aspecto importante é que a perda de peso pode aumentar a fertilidade, já que a obesidade é conhecida por reduzir a capacidade reprodutiva e agravar condições como a síndrome dos ovários policísticos.

A melhora na fertilidade pode tornar as mulheres mais propensas a engravidar, mesmo utilizando anticoncepcionais orais.

Até o momento, não há evidências que indiquem que outros métodos contraceptivos, como dispositivos intrauterinos (DIUs), adesivos ou implantes, sejam afetados pelos medicamentos para emagrecimento que atuam no GLP-1, pois seus princípios ativos são absorvidos diretamente na corrente sanguínea e não dependem do trato gastrointestinal. Métodos de barreira, como preservativos e DIUs de cobre, também não são impactados.

Entretanto, mulheres que usam anticoncepcionais orais devem adotar um método contraceptivo adicional não oral, como preservativos, nas primeiras quatro semanas após iniciarem o uso de semaglutida ou tirzepatida, período em que os efeitos colaterais são mais intensos.

Devido à falta de dados sobre a segurança desses medicamentos durante a gravidez, mulheres que engravidam enquanto fazem uso desses tratamentos devem consultar um médico para avaliar opções alternativas.

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