VITÓRIA MACED
FOLHAPRESS
O consumo de bebidas alcoólicas contaminadas com metanol tem causado casos graves de intoxicação em São Paulo, resultando em mortes e cegueira. Esse problema destacou a importância de saber identificar bebidas adulteradas para evitar riscos à saúde.
Os sintomas da intoxicação por metanol podem parecer os de uma ressaca forte, dificultando a percepção do problema. Apesar das bebidas adulteradas parecerem normais, é possível observar alguns sinais e tomar cuidados para prevenir o consumo dessas substâncias perigosas.
Dados recentes indicam que o interesse pela palavra “metanol” cresceu muito no Brasil, com buscas online relacionadas a bebidas adulteradas e batizadas alcançando o pico.
É possível identificar metanol na bebida?
Não é possível que o consumidor detecte metanol pelo sabor, cheiro ou aparência, pois muitas vezes a bebida adulterada tem gostos e cheiros muito parecidos com o original. Confiar em testes caseiros não é seguro e pode atrasar a procura por atendimento médico adequado.
Como saber se a bebida está adulterada?
Não existe um método caseiro seguro para confirmar a presença de metanol, pois ele é incolor, volátil e tem cheiro e sabor semelhantes ao etanol. Apenas análises laboratoriais podem confirmar a contaminação. Porém, alguns cuidados e sinais de alerta merecem atenção:
- Preço muito abaixo do mercado;
- Venda em locais informais;
- Cheiro forte ou irritante;
- Rótulos com impressão ruim, tortos ou com erros;
- Falta de CNPJ, lote ou validade;
- Lacres violados.
Mesmo sem esses sinais, a bebida pode estar adulterada. Por isso, prefira comprar em estabelecimentos confiáveis, como supermercados e distribuidoras autorizadas, onde é possível exigir nota fiscal, que garante rastreabilidade e segurança ao consumidor.
E no caso de doses ou drinques?
Ao consumir bebidas servidas em dose ou drinques, atenção redobrada é necessária, já que não há como garantir a procedência da bebida misturada. A fiscalização rigorosa de bares, festas e outros pontos de venda é essencial para proteger o consumidor.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública alerta que os estabelecimentos devem comprar produtos seguros, conferir mercadorias e valorizar rastreabilidade, além de estar atentos a sintomas suspeitos relatados por clientes.
Contaminação ocorre só com destilados?
Cervejas também podem ser contaminadas, porém geralmente isso acontece por erros no processo de produção, e não por falsificação. Um caso ocorrido em 2020 envolveu contaminação da cerveja Becker com uma substância tóxica, causando mortes e sequelas graves.
O que fazer se desconfiar de adulteração?
Interrompa o consumo imediatamente. Não faça testes caseiros como cheirar, provar ou queimar a bebida, pois são métodos inseguros e inconclusivos.
Se aparecerem sintomas como dor de cabeça forte, náusea, vômitos, dor abdominal, respiração rápida, confusão mental, convulsões ou alterações na visão, procure atendimento médico urgente. Leve a embalagem e, se possível, a nota fiscal, e informe a suspeita de intoxicação por metanol para que seja aplicado o tratamento correto, que pode incluir antídotos e hemodiálise.
No Brasil, o Disque-Intoxicação 0800 722 6001 (Anvisa) está disponível 24 horas para orientações sobre intoxicações.
Preserve a garrafa suspeita, fotografe ou grave vídeos do rótulo e do local de compra, e faça a notificação para as autoridades competentes: Vigilância Sanitária, Polícia Civil, Procon e o sistema e-Notivisa da Anvisa.
Falsificar ou adulterar bebidas é crime segundo o Código Penal (art. 272) e a Lei 8.137/1990, com penas que incluem reclusão e multa.
O Ministério da Justiça orienta que os estabelecimentos adotem dupla checagem presencial na abertura das caixas, registrando rótulos, lotes e dados da nota fiscal para fortalecer a segurança e a rastreabilidade.
Se identificarem produtos suspeitos, os estabelecimentos devem parar a venda imediatamente, isolar o produto com aviso “BLOQUEADO”, preservar evidências e recomendar que consumidores com sintomas procurem atendimento médico urgentemente.
Fontes: Mariana Thibes, coordenadora do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA); Olivia Pozzolo, psiquiatra e médica pesquisadora do CISA; Ministério da Justiça e Segurança Pública; Procon-SP.