LUÍSA MONTE
FOLHAPRESS
O falecimento de Juliana Marins, alpinista brasileira que sofreu uma queda enquanto escalava o Monte Rinjani, na Indonésia, foi causado por um trauma físico que resultou em danos aos órgãos internos e sangramento, conforme revelado pela autópsia divulgada nesta sexta-feira (27).
Traumas decorrentes de quedas que provocam hemorragias podem ser fatais, pois comprometem o transporte de oxigênio essencial para o funcionamento dos órgãos, de acordo com um especialista consultado pela Folha de S.Paulo. Em situações severas, a morte pode ocorrer rapidamente.
O que é hemorragia
De acordo com a BBC Indonésia, o perito forense Ida Bagus Alit declarou que foram detectados arranhões, escoriações e fraturas no tórax, ombro, coluna e coxa de Juliana. Essas fraturas causaram lesões nos órgãos internos e levaram ao sangramento.
Hemorragia é o termo usado para descrever o sangramento interno. Gustavo Tadeu Sanchez, diretor da Sociedade Brasileira do Trauma Ortopédico (SBTO), explica que essas lesões afetam a distribuição de oxigênio para os órgãos.
“O sangue é fundamental para transportar oxigênio aos órgãos. Quando ocorre hemorragia, a perda de sangue reduz a capacidade desse transporte. O corpo reage a isso tomando certas medidas”, afirmou o médico.
Sanchez detalha que o organismo promove a vasoconstrição, ou seja, o estreitamento dos vasos sanguíneos para tentar otimizar a disseminação do oxigênio. Além disso, o coração bate mais rápido e a frequência respiratória aumenta. O corpo pode ainda direcionar o fluxo sanguíneo para órgãos vitais como o cérebro e o coração.
No entanto, se o sangramento não for controlado rapidamente, essas respostas corporais tornam-se insuficientes, e a condição pode evoluir para o óbito.
Segundo o especialista, o progresso do quadro depende da gravidade da lesão: inicialmente, ocorre instabilidade hemodinâmica, caracterizada por queda brusca da pressão arterial, podendo evoluir para casos fatais, como infelizmente foi o caso de Juliana.
A autópsia indicou que a alpinista pode ter falecido cerca de 20 minutos após a queda. “Nenhum órgão apresentou sinais de sangramento lento, indicando que a morte ocorreu pouco tempo depois dos ferimentos”, informou o perito ouvido pela BBC.
Trauma torácico
O exame apontou que Juliana sofreu uma lesão na região torácica, onde estão o coração e os pulmões. Sanchez explica que a contusão pode ter afetado as costelas, que funcionam como protetoras, e os pulmões, que realizam a troca gasosa no organismo.
O médico aponta que a atleta pode ter enfrentado uma contusão pulmonar, reduzindo a capacidade do órgão de se expandir adequadamente e comprometer sua principal função: a troca de oxigênio.
Segundo ele, isso agrava ainda mais a qualidade do oxigênio no sangue, que já está reduzida devido à hemorragia. Assim, fatores combinados aumentam a gravidade da lesão.
A autópsia também constatou ausência de lesões cerebrais ou sinais de hipotermia.