Mundo
Como o coronavírus pode nos fazer repensar as megacidades
A pandemia destacou as vulnerabilidades existentes nas megacidades, o que pode gerar um êxodo em massa dos mais ricos

Veneza: antes mesmo da crise atual, os políticos italianos e europeus frequentemente invocavam a cidade como uma alegoria para a ausência de reformas. (Adrià Salido Zarco/Reprodução)
PRINCETON – A covid-19 matou a megacidade? A pandemia certamente está remodelando a globalização, transformando os centros da economia global anteriores a 2020 em epicentros de contágio e deixando seu futuro na incerteza. Mas a crise simplesmente destacou também as vulnerabilidades existentes nas megacidades e os processos acelerados que já estavam em andamento.
No início deste século, cidades como Londres, Nova York e Hong Kong tornaram-se elos centrais no fluxo global de dinheiro, pessoas e ideias. Não eram apenas centros financeiros, mas também metrópoles culturais, colmeias de criatividade que dependiam da riqueza e do patrocínio dos banqueiros. Empreendedores e inovadores se juntaram, na esperança de reinventarem a si mesmos e o mundo.
Mas as megacidades também precisam de uma ampla gama de outros trabalhadores com diferentes conjuntos de habilidades. Consequentemente, os imigrantes acorreram a elas também, em busca de fortuna ou simplesmente de novas oportunidades para seus filhos. Muitos sonhavam em ingressar na elite criativa. No devido tempo, prósperas cidades globais se transformaram em caldeirões culturais.
Isso inevitavelmente criou novas tensões com o interior. As pessoas nos subúrbios ou áreas rurais passaram a ver a vida urbana como inatingível ou indesejável. A mobilização popular por trás do Brexit foi impulsionada em parte pelo ressentimento desses eleitores em relação a uma Londres cada vez mais multicultural e rica, cujo sucesso, eles suspeitavam, ocorria às custas deles. Até mesmo profissionais da classe média alta reclamavam que não suportavam mais o custo de vida em Londres.
Da mesma forma, os apoiadores do presidente Donald Trump dos Estados Unidos no sul, sudoeste e centro-oeste se definem em contraste com lugares como São Francisco e Nova York. “Torne os EUA grandes de novo” (Make America Great Again) significa derrubar as elites costeiras. E, é claro, o choque de culturas entre Hong Kong e a China continental desde 1997 tem sido explicitamente óbvio, devido ao acordo de “um país, dois sistemas”.
Em cada caso, os exorbitantes preços das propriedades nas megacidades envenenaram o poço social. Moradias de alto padrão são acessíveis apenas para a elite global, deixando todos os outros residentes em condições de superlotação ou fora do centro da cidade. Os trabalhadores com empregos temporários ou sazonais muitas vezes não têm um bom local para morar, e uma crescente epidemia de indivíduos sem-teto começou bem antes da pandemia. Muitas pessoas dependem de transporte público inadequado e não confiável para se locomover por longas distâncias. Estudantes universitários e do ensino médio não têm acomodações adequadas.
Junto da covid-19 veio o medo da infecção e um êxodo em massa dos mais ricos. As economias locais nos bairros de alta renda entraram em colapso. A pandemia trouxe um novo tipo de polarização social, pois os trabalhadores dos serviços de saúde, transporte público e varejo foram forçados a se expor ao risco de infecção ou sacrificar seus ganhos.
Em contrapartida, trabalhadores do conhecimento simplesmente começaram a trabalhar à distância e a ganhar a vida não lhes faltando nada exceto oportunidades para conviverem fisicamente. A nova divisão entre trabalhadores remotos e de linha de frente apontou para as nítidas distinções de classe que muitos preferiram ignorar desde muito tempo.
Mais recentemente, o vírus alimentou a busca por alternativas às megacidades de alto custo da era pré-pandêmica. Para os trabalhadores do conhecimento, a tecnologia torna o emprego remoto atraente e fácil, eliminando deslocamentos desagradáveis e as despesas da vida na cidade. Por que não trabalhar e viver onde quiser?
É claro que a repulsa a cidades superlotadas e perigosas não é novidade. A pandemia mais catastrófica já registrada, a peste bubônica na Eurásia de meados do século 14, provocou uma fuga semelhante. Ler os relatos de Boccaccio sobre jovens aristocratas florentinos autoindulgentes que fugiam para as colinas de Fiesole é ligar o passado e o presente. No evento, a praga desencadeou uma mudança de longo prazo e intensificou o conflito de classes em Florença, quando os trabalhadores comuns se voltaram contra a elite urbana.
Mas o paralelo histórico mais marcante para o declínio das megacidades hoje é Veneza. Muito antes da crise atual, os políticos italianos e europeus frequentemente invocavam a cidade da lagoa que afundava como uma alegoria para a ausência de reformas. Imortalizada pela novela de Thomas Mann, Morte em Veneza, a cidade há muito representa um dilema universal. Depois de atingir o auge de sua glória no final do século 16, sofreu um longo declínio, devido às mudanças nas rotas comerciais, à nova concorrência das cidades mais pobres, porém mais dinâmicas, e à proximidade de doenças.
E, no entanto, Veneza também pode ser um modelo para a megacidade pós-COVID. Como nos lembram os historiadores da economia moderna, a história da cidade não é apenas uma história de colapso industrial e comercial no século 17. Em vez disso, a produção dos artigos venezianos mais icônicos mudou para o interior – para cidades menores como Treviso e Vicenza – o que forçou a República de Veneza a construir uma nova relação política com os territórios vizinhos. Parte superior do formulário
Atualmente, conflitos políticos pré-existentes têm dificultado a resposta geral à pandemia. Por sua própria natureza, as cidades globais estavam particularmente vulneráveis ao vírus e, quando ele atacou, seus líderes e autoridades nacionais começaram a culpar uns aos outros. O prefeito de Londres, Sadiq Khan, regularmente ataca a cambaleante estratégia de bloqueio do primeiro-ministro britânico Boris Johnson. O prefeito da cidade de Nova York está em uma luta tripla com o governador de Nova York e Trump, que usou a crise das cidades americanas para desviar a atenção de sua cambaleante administração. No caso de Hong Kong, o vírus criou um pretexto para que a China reafirmasse sua autoridade sobre o território com uma abrangente nova lei de segurança.
O renascimento da verdadeira democracia é frequentemente considerado a melhor solução para os problemas associados à globalização tecnocrática. Mas, para que a democracia tenha algum atrativo, os governos democráticos terão de ser mais eficazes no combate não apenas ao vírus, mas também às fontes mais profundas de mal-estar, como pobreza e moradias inacessíveis. Sem uma administração competente, as megacidades estão fadadas a compartilhar o mesmo destino das grandes cidades do passado. Londres e Nova York podem afundar à sua maneira. Mas, desta vez, não haveria renascimento fora das megacidades.
*Harold James é Professor de História e Assuntos Internacionais, na Universidade de Princeton e Membro Sênior do Centro de Governança Internacional para a Inovação.

Mundo
Israel dissolve Parlamento e convoca novas eleições para 1º de novembro
A dissolução foi aprovada por 92 votos a favor e nenhum contrário

Objetivo da coalizão era acabar com 12 anos ininterruptos de governo do direitista Benjamin Netanyahu (Ilia Yefimovich/picture alliance/Getty Images)
Os deputados israelenses dissolveram nesta quinta-feira o Parlamento e abriram o caminho para novas eleições legislativas, a quinta vez que o país comparecerá as urnas em menos de quatro anos, e para a nomeação a partir de meia-noite do chefe da diplomacia Yair Lapid como primeiro-ministro interino.
A dissolução foi aprovada por 92 votos a favor e nenhum contrário, de um total de 120 cadeiras no Parlamento. Antes da votação, os deputados estabeleceram 1º de novembro com a data para as próximas legislativas.
A dissolução encerra o breve governo de um ano do primeiro-ministro Naftali Bennett, que liderou uma coalizão de oito partidos (direita, esquerda e centro), que incluiu pela primeira vez uma formação árabe, algo histórico em Israel.
O principal objetivo da coalizão era acabar com 12 anos ininterruptos de governo do direitista Benjamin Netanyahu, mas também formar um Executivo, algo que havia sido impossível após as três eleições anteriores, muito acirradas.
Horas antes da dissolução do Parlamento – prevista inicialmente para quarta-feira à noite e adiada para quinta-feira por atrasos em outras votações -, Bennet anunciou que não será candidato nas próximas eleições.
Ele transmitirá o cargo de primeiro-ministro a Lapid às 00h00 locais (18h00 de Brasília).
Perda da maioria
O acordo de coalizão incluía uma alternância no poder e uma cláusula que estabelecia que Lapid seria o primeiro-ministro interino até a formação de um novo governo em caso de dissolução do Parlamento
Um ano após a assinatura do acordo histórico, a coalizão perdeu a maioria na Câmara e Bennett anunciou na semana passada a intenção de dissolver o Parlamento para convocar novas eleições.
Em 6 de junho, a oposição provocou um revés para a coalizão Bennett-Lapid, ao reunir maioria contra a renovação de uma “lei dos colonos”, um dispositivo que a Câmara deve aprovar a cada cinco anos.
Esta lei deveria ser renovada até 30 de junho, pois em caso contrário os colonos da Cisjordânia – território palestino ocupado por Israel desde 1967 – corriam o risco de perder a proteção legal com base no direito israelense.
Bennett, fervoroso defensor das colônias, ilegais para o direito internacional, não poderia correr o risco de provocar uma situação caótica e preferiu encerrar o seu governo.
“Unidade israelense”
“O que precisamos agora é voltar ao conceito de unidade israelense e não deixar que as forças da sombra nos dividam”, declarou na semana passada Lapid, que será primeiro-ministro a partir de sexta-feira.
O jornalista e ex-astro da TV ocupará ao mesmo tempo os cargos de chefe de Governo e ministro das Relações Exteriores, enquanto se prepara para as eleições.
Em meados de julho, Lapid receberá em Israel o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em sua primeira visita ao Oriente Médio desde que chegou à Casa Branca.
No cenário interno, ele enfrentará o líder da oposição e do partido Likud, Benjamin Netanyahu, de 72 anos, julgado por corrupção em vários processos, que deseja retornar ao posto de primeiro-ministro.
“A experiência (da coalizão) fracassou”, declarou Netanyahu. “Isto é o que acontece quando se reúne uma falsa extrema-direita com a esquerda radical, tudo isto misturado com a Irmandade Muçulmana”, acrescentou.
“Teremos outro governo Lapid que será um fracasso ou um governo de direita liderado por nós? Nós somos a única alternativa! Um governo forte, nacionalista e responsável”, declarou Netanyahu, iniciando de maneira antecipada a campanha eleitoral.
Mundo
Três sinais mostram que peso argentino caminha para um tombo
Moeda deve sofrer uma desvalorização contra o chamado dólar blue de cerca de 40% para 340 pesos por dólar

Um porta-voz do banco central afirma que continuará adotando políticas que aliviam as preocupações com a taxa de câmbio e a inflação (LUIS ROBAYO)
O peso argentino caminha para uma forte desvalorização no mercado de câmbio paralelo – um tombo tão grande que pode arrastar o peso oficial com ele.
A necessidade de aumentar a base monetária para pagar as dívidas em peso e os gastos financeiros, além de uma queda nas exportações agrícolas e um aumento nas importações de energia, tudo isso significa problemas para a moeda argentina.
O peso deve sofrer uma desvalorização contra o chamado dólar blue de cerca de 40% para 340 pesos por dólar até o final do ano, disse Alejo Costa, chefe de estratégia para a Argentina no BTG Pactual. Isso, por sua vez, pode levar o banco central a desvalorizar a taxa de câmbio oficial em pelo menos 10% no final do terceiro trimestre, quebrando sua política de dois anos de declínio gradual e controlado.
“O peso paralelo estará sob mais pressão do que todas as outras moedas da região, dadas as políticas e riscos locais”, disse Costa, de Buenos Aires.
O banco central argentino vendeu US$ 589 milhões até agora em junho para defender o peso, ante compras de US$ 627 milhões no mesmo período do ano passado. Isso ajudou a reduzir as reservas em moeda estrangeira da instituição em cerca de US$ 3,4 bilhões este mês.
“Está muito apertado atender à acumulação de reservas exigida” pelo programa do país com o Fundo Monetário Internacional, disse Alejandro Cuadrado, chefe de estratégia cambial para a América Latina do BBVA em Nova York.
O ministério da economia argentino não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. Um porta-voz do banco central apontou para um relatório recente que dizia que continuaria adotando políticas que aliviam as preocupações com a taxa de câmbio e a inflação.
Aqui estão os três principais fatores que pressionam o peso:
Expansão Monetária
A oferta monetária da Argentina cresce a um ritmo anual de 53%, ante 30% no início do ano, alimentando a demanda por bens e os dólares necessários para pagar por importações. A expansão do peso é um dos principais fatores que os analistas veem por trás da inflação e da depreciação cambial.

– (Bloomberg/Reprodução)
“Haverá muita expansão monetária durante o segundo semestre, fundamentalmente devido ao déficit fiscal”, disse Costa.
Exportações Agrícolas
A principal temporada de colheita da Argentina terminou e, embora normalmente as vendas ocorram logo em seguida, nesta safra os produtores estão segurando boa parte de sua soja à espera de um preço melhor. Alguns analistas não esperam que eles vendam até que haja uma desvalorização, que aumentaria a receita de exportação em pesos já que a soja é cotada em dólar.
“Os produtores continuarão segurando sua produção até que o peso caia ou os preços das commodities comecem a cair”, disse Lucrecia Colletti, líder da mesa de câmbio do Banco Provincia de Buenos Aires. “Mas vejo tudo isso como difícil se a guerra Ucrânia-Rússia continuar.”
Importações de energia
Ao mesmo tempo em que faltam dólares da soja, a Argentina deve alocar dólares para pagar pelas importações de gás depois de não atender a demanda de inverno com a produção doméstica. Isso está se tornando cada vez mais caro à medida que a guerra na Ucrânia aumenta os preços do petróleo e do gás.

– (Bloomberg/Reprodução)
“É muito difícil para o banco central acumular uma quantidade significativa de reservas” com uma lacuna tão grande entre as taxas de câmbio oficiais e o dólar blue, disse Alejandro Giacoia, economista da consultoria Econviews, com sede em Buenos Aires.
Mundo
Cúpula do G7 resultou em fracasso, diz Politico
A edição americana Politico diz que a cúpula do G7 resultou em fracasso e seus objetivos não foram alcançados.

© AFP 2022 / Kerstin Joensson
“Quando já estavam terminando as negociações, os líderes mais influentes do mundo pareciam estar falhando em todas as frentes, sendo incapazes de parar [a operação militar especial] […] o aumento descontrolado dos preços, incapazes de prevenir o derretimento da geleira Zugspitze ou mesmo pôr fim ao bloqueio de milhões de toneladas do grão ucraniano”, diz a mídia.
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Defesa russa: até 100 combatentes da unidade nazista Kraken são eliminados na região de Carcóvia
Na região de Carcóvia, foram eliminados até 100 combatentes da formação nazista Kraken, bem como dez equipamentos militares ucranianos, relatou nesta quarta-feira (29) o Ministério da Defesa russo.

© Sputnik / Aleksei Maishev
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EUA: exportações de microchips para a Rússia caem 90% e prejudicam fabricação de mísseis e tanques
As remessas mundiais de microchips para a Rússia caíram quase 90% desde que as restrições às exportações para o país foram introduzidas, deixando os fabricantes de armas no país sem suprimentos cruciais para produzir armas de precisão, como mísseis guiados e tanques, disse a secretária de Comércio dos EUA, Gina Raimondo.

© Sputnik / Ministério da Defesa da Rússia / Abrir o banco de imagens
“Desde que os controles [sanções econômicas impostas ao Kremlin] foram implementados, as exportações globais de semicondutores para a Rússia, de todas as fontes, diminuíram quase 90%, deixando as empresas russas sem os chips necessários para uma ampla variedade de produtos, incluindo armas como mísseis guiados de precisão e tanques”, afirmou Raimondo no discurso, em uma conferência realizada pelo Gabinete de Indústria e Segurança.
“A Rússia pode ser forçada a encalhar entre metade e dois terços de suas aeronaves comerciais até 2025 a fim de canibalizá-las para peças de reposição”, afirmou.
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Com apenas 1 palavra, Putin ‘fez soar o alarme’ no Pentágono, segundo The Hill
Declaração do presidente russo, Vladimir Putin, sobre entregar sistemas Iskander-M a Minsk fez o Pentágono entrar em alerta, segundo o jornal The Hill.

© Sputnik / Mikhail Tereschenko
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