LAIZ MENEZES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Para tratar intoxicação por metanol, que é um tipo de álcool perigoso que vira ácido fórmico no corpo, usamos dois antídotos principais: o etanol e o fomepizol. Esses remédios impedem que o metanol se transforme nessa substância tóxica, ajudando o corpo a eliminar o metanol de forma menos danosa.
O etanol, disponível no Brasil, bloqueia a transformação do metanol em ácido fórmico, porém pode causar embriaguez. Já o fomepizol, que ainda não é vendido aqui, tem o mesmo efeito com menos risco de efeitos colaterais.
Os primeiros sintomas da intoxicação por metanol são tontura, fraqueza, sono e sensação de relaxamento, parecidos com ressaca. Podem surgir também dificuldades na respiração, náuseas, vômitos, dor de cabeça, confusão mental, batimentos cardíacos acelerados, pressão baixa e dificuldades no equilíbrio. Após de seis a 24 horas, a visão pode ficar embaçada, sensível à luz, com pupilas dilatadas e dificuldade para distinguir cores, conforme a Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo.
O Ministério da Saúde informou recentemente que houve 113 registros de suspeita de intoxicação por metanol em cinco estados e no Distrito Federal, incluindo 11 casos confirmados e uma morte confirmada em São Paulo, além de outras em análise.
Álvaro Pulchinelli, médico toxicologista e diretor técnico da Toxicologia Pardini do Grupo Fleury, explica que o etanol e o fomepizol bloqueiam a transformação do metanol em ácido fórmico, protegendo o organismo.
“Os efeitos colaterais do fomepizol, como náusea, tontura ou dor de cabeça, são mais leves e bem tolerados, ajudando o paciente a se recuperar de forma mais rápida e segura durante a eliminação do metanol”, afirma Pulchinelli.
Esses antídotos são aplicados somente em hospitais, por via oral ou na veia, e deveriam estar sempre disponíveis para emergências, como forma de prevenção.
“É como ter um extintor de incêndio: você espera nunca precisar usar, mas, em caso de tragédia, é essencial que esteja disponível”, complementa.
O fomepizol ainda não é autorizado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para uso no Brasil. Segundo o Ciatox de Campinas, órgão de referência para intoxicações, o medicamento impede a transformação do metanol em toxinas e é mais fácil de usar que o etanol farmacêutico.
Em uma coletiva em Brasília, o ministro da Saúde Alexandre Padilha disse que o governo tentará importar o fomepizol, e a Anvisa lançará um edital para buscar fabricantes e distribuidores.
Limites legais de metanol em bebidas alcoólicas no Brasil
O Conselho Federal de Química informa que o Ministério da Agricultura e Pecuária determina que o metanol não deve ser maior que 20 mg por 100 mL de álcool puro em bebidas destiladas. Existem exceções: no arak e rum o limite é até 200 mg/100 mL, e na aguardente de fruta, até 400 mg/100 mL, por causa da matéria-prima. No uísque, feito com cereais, o limite é o geral de 20 mg/100 mL.
Nos vinhos, só podem ser vendidos produtos que passaram em exames laboratoriais. O metanol surge naturalmente durante a fermentação da uva. Os limites são 400 mg/L para vinhos tintos e 300 mg/L para brancos e rosados, para assegurar a qualidade e segurança da bebida.
Na cerveja, feita com cereais maltados, a quantidade de metanol é muito baixa e controlada. A legislação exige que esses produtos estejam abaixo dos níveis que possam causar risco, conforme as normas do Ministério da Agricultura.