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quinta-feira, 31/07/2025

Comecei a puberdade aos 4 anos e a menopausa aos 16 anos, conta jovem

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Desde muito pequena, Julia Micaelly Ribeiro Carvalho, atualmente com 20 anos, já notava algo diferente em seu corpo. Natural de Pedreiras, no Maranhão, ela recorda o desconforto de observar pelos e seios em desenvolvimento enquanto suas colegas mantinham traços infantis.

“Eu praticava natação na escola e via que meu corpo não era igual ao das outras meninas. Elas não tinham pelos, tinham corpos infantis. Eu já tinha seios e isso me deixava envergonhada”, conta Julia em entrevista ao Metrópoles.

Com vergonha, evitava trocar de roupa com as colegas e se escondia no banheiro. A família demorou a buscar ajuda médica, até que a mãe de uma amiga sugeriu levar a menina a uma endocrinopediatra, especialista em hormônios na infância.

Exames indicaram que aos 7 anos Julia tinha idade óssea de 12 anos e estava próxima da menstruação. Foi diagnosticada a puberdade precoce.

O tratamento hormonal foi intenso, com injeções frequentes até os 11 anos. “No início eram três por mês. Depois diminuiu, mas ainda era doloroso. Até hoje tenho pavor de agulhas”, revela.

Julia relata que viveu a infância com dúvidas e tristeza. “Sentia que algo estava errado comigo. O tratamento doía e eu não compreendia o motivo”, lembra.

A menstruação apareceu aos 11 anos, gerando confusão e revolta. “Minha mãe dizia que o tratamento era para eu não menstruar. Quando isso ocorreu, achei que tudo foi em vão. Chorei muito, fiquei indignada. Meu pai tentava me tranquilizar, mas eu só chorava”, conta.

Casos de puberdade antes dos 9 anos são raros e precisam ser tratados para evitar problemas de saúde. Puberdade precoce pode provocar alterações ósseas, baixa estatura, infertilidade e menopausa precoce, explica a ginecologista Camilla Pinheiro, do Hospital Sírio-Libanês.

“Aos 4 anos é fora do padrão, e nesses casos o bloqueio da puberdade é fundamental. Existem várias causas e consequências físicas e mentais. O cérebro da criança não está preparado para esse processo”, diz a médica.

Menopausa precoce

Aos 16 anos, Julia sofreu uma hemorragia inesperada. Sem sintomas prévios, o sangramento levou à identificação de um cisto no ovário e à remoção dos dois ovários. Foi informada que estava na menopausa. “Para mim, menopausa era coisa de mulher com 50 anos. Achei que era brincadeira. Quando entendi, entrou em pânico. Achei que minha vida havia acabado”, relata.

Camilla Pinheiro esclarece que a menopausa por remoção dos ovários é mais intensa que a natural, especialmente em jovens, devido à mudança hormonal abrupta, que não permite adaptação gradual.

“O organismo não se prepara aos poucos, então os sintomas são mais fortes. Há ondas de calor, irritabilidade e alterações de humor súbitas”, explica.

Julia iniciou reposição hormonal, enfrentando dores físicas e emocionais. Cólica intensa, dormência nas pernas, pressão baixa e irritabilidade extrema foram parte dessa fase difícil. “Foi o pior momento da minha vida”, resume.

Sintomas da menopausa

  • Irregularidade menstrual, sangramentos ou fluxo reduzido.
  • Ondas de calor súbitas, vermelhidão no rosto e pescoço.
  • Dificuldade para urinar, dor e escape involuntário de urina.
  • Ressecamento vaginal, dor na penetração e baixa libido.
  • Aumento de irritabilidade, instabilidade emocional e choro.
  • Depressão, ansiedade, melancolia e perda de memória.
  • Alterações no sono.
  • Mudanças na vitalidade da pele, cabelos e unhas, tornando-os frágeis.
  • Distribuição da gordura corporal alterada, concentrada no abdômen.
  • Perda de massa óssea (osteoporose e osteopenia).

Descoberta de tumor

Durante o tratamento, exames revelaram alterações no hormônio prolactina, produzido pela hipófise. Julia percebeu produção de leite nos seios, e exames confirmaram um nódulo benigno na hipófise. “Fui buscar o exame sozinha e quando vi o nódulo, desabei. Achei que ia morrer”, relata.

O tumor benigno foi tratado com medicamentos. Aos poucos, ela recuperou o controle da saúde física e emocional, com antidepressivos e terapia. Hoje, aos 20 anos, já está liberada do acompanhamento psicológico.

Camilla explica que alterações hormonais podem estar presentes antes do tratamento da puberdade precoce. “O bloqueio hormonal pode trazer consequências, mas disfunções no eixo hormonal geralmente já existiam antes”, aponta.

Planos para o futuro

Casada e prestes a começar medicina no Paraguai, Julia já pensa no futuro. “Minha mãe congelou os óvulos aos 38 anos. No início, eu não queria, estava revoltada, mas hoje agradeço. Poderei fazer fertilização na hora certa.”

Ela ainda sofre com comentários maldosos sobre maternidade e genética do filho. “Alguns dizem que não será meu filho, mas meu irmão. Isso não me abala, é ignorância. Será meu filho”, afirma.

Julia carrega as marcas do que viveu, mas transformou a dor em força. “Ainda sinto o que passei, mas estou bem. Quero mostrar que não é o fim, mesmo quando tudo parece estar perdido”, finaliza.

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