Operação, batizada de Quinta Coluna, investiga grupo que transportou entorpecentes em avião da Força Aérea Brasileira; instituição diz que colabora com autoridades policiais. Alvo desta etapa é militar suspeito de recrutar ‘mulas’.
A Polícia Federal cumpriu, nesta quinta-feira (25), três mandados de busca e apreensão contra militar suspeito de recrutar “mulas” – pessoas que transportam drogas – em esquema de tráfico internacional de entorpecentes. A operação, batizada de Quinta Coluna, investiga grupo que transportou 39 kg de cocaína em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), do Brasil para a Espanha, em 2019.
As buscas ocorreram no Lago Sul, Asa Norte e Águas Claras, regiões do Distrito Federal. O alvo desta etapa da operação foi um militar que estaria ligado ao sargento Manoel Silva Rodrigues, primeiro preso suspeito de participar do esquema.
Em nota, a FAB informou que tem conduzido, desde 18 de março, o cumprimento de mandados de busca, apreensão e prisão relacionados à investigação, que tramita na 11ª Circunscrição Judiciária Militar.
“A Força Aérea Brasileira colabora com as autoridades policiais e reitera que atua para coibir irregularidades, repudiando condutas que não representam os valores, a dedicação e o trabalho do efetivo em prol do cumprimento de sua missão Institucional.”
O caso veio à tona após a prisão de Rodrigues, em junho de 2019, em Sevilha, na Espanha. Ele transportava a droga voo da comitiva presidencial. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), não estava na aeronave.
Os mandados desta quinta-feira foram expedidos pela 12ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal com base na análise de documentos apreendidos na fase anterior da operação.
Prisões
Investigação aponta possíveis cúmplices de militar que transportava cocaína na comitiva de Bolsonaro
Quatro suspeitos de participar do esquema foram detidos na semana passada. Policiais federais prenderam três militares e a mulher de Rodrigues em 18 de março (veja nomes abaixo).
- Tenente-coronel Alexandre Augusto Piovesan;
- Sargento Márcio Gonçalves de Almeida;
- Sargento Jorge Luis da Cruz Silva;
- Wikelaine Nonato Rodrigues.
A investida anterior contra o esquema ocorreu no dia 2 de fevereiro, quando a Polícia Federal deflagrou mais uma fase da operação Quinta Coluna. Os agentes cumpriram 15 mandados de busca e apreensão e duas medidas cautelares que impedem os investigados de deixar a capital.
Nessa fase, a esposa de Rodrigues também foi alvo da operação. Segundo a investigação, ela desapareceu com R$ 40 mil e um celular que o sargento usava para se comunicar com o grupo criminoso. A polícia já havia pedido a prisão da mulher, porém, foi negado pela Justiça.
O outro sargento investigado, Jorge Luis, é suspeito de contratar “mulas” para o esquema. Ele era funcionário do gabinete da vice-governadoria do Distrito Federal.
Por meio da quebra de sigilos telefônicos, os investigadores identificaram que os sargentos se encontraram e trocaram mensagens às vésperas de duas viagens de Rodrigues. Foi descoberto também que Jorge trocou de celular logo após a prisão do colega.
Droga apreendida
Rodrigues foi preso em 2019 e, até a semana passada, era o único detido por participação no esquema. No início do ano passado, o sargento foi condenado a seis anos de prisão, confessou o crime à polícia espanhola e teria dito que “aproveitou a condição de militar”.
O militar contou ainda que deixaria a droga em um centro comercial de Sevilha. À Justiça espanhola, Rodrigues disse que foi a primeira vez que transportou drogas, mas admitiu que costumava revender no Brasil produtos comprados durante as viagens a trabalho, segundo ele, para complementar o baixo salário.
Ele foi preso em flagrante pelas autoridades espanholas e acusado de delito à saúde pública. O militar era tripulante no avião de apoio da comitiva do presidente Jair Bolsonaro, que estava indo à reunião do G20, no Japão.
Os promotores espanhóis queriam uma pena maior para o sargento, de oito anos, mas concordaram em reduzir esse tempo porque Manoel Silva Rodrigues confessou o crime. Durante a audiência, ele falou pouco. O militar da FAB lamentou a situação e pediu desculpas ao povo espanhol.