A Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) se transformou em um epicentro de questionamentos nacionais após a controversa manobra para autorizar o Banco de Brasília (BRB) a adquirir fatias significativas do Banco Master. O que deveria ser um debate transparente sobre o futuro financeiro da capital federal se revelou um jogo de cartas marcadas, levantando sérias dúvidas sobre a gestão e a moralidade da operação.
Em agosto de 2025, o GDF encaminhou o projeto para permitir ao BRB comprar 49% das ações ordinárias e 100% das ações preferenciais do Banco Master. A tramitação acelerada motivou críticas de parlamentares que defendiam uma análise mais extensa sobre os impactos da operação.
Reunião Prévia e Reações na CLDF
No dia da votação, ocorreu uma reunião antecipada entre integrantes da base governista e Paulo Henrique Costa, agora, ex-presidente do BRB. A presença de autoridades ligadas ao banco gerou preocupação entre alguns deputados, que defenderam maior transparência no diálogo com a Casa.
Parlamentares da oposição e a deputada Paula Belmonte (Cidadania) manifestaram incômodo com o encontro fechado, argumentando que decisões de grande impacto financeiro deveriam ser discutidas de forma mais ampla.
O Risco de “Ativos Podres” e a Conta para o Cidadão
As críticas mais contundentes vieram da oposição, que não hesitou em classificar a operação como um resgate financeiro disfarçado. O deputado Fábio Felix (Psol) foi direto ao ponto, expondo a suspeita de que o BRB estaria sendo usado como “bode expiatório para salvar um banco cheio de ativos podres, um banco de capital fictício“.
A gravidade da situação foi resumida por Felix como “uma das maiores lambanças da história política do Distrito Federal”. O parlamentar alertou para a consequência direta para a população:
“Se tudo der errado amanhã, quem vai pagar a conta é a população do Distrito Federal, porque quem vai ter que salvar é o orçamento público do DF.”
O deputado Max Maciel (Psol) reforçou a suspeita, ironizando a falta de interesse de outras instituições financeiras: “É um banco tão bom que apenas o BRB está com interesse de comprar esses ativos, enquanto os outros bancos sequer querem fazer parte do processo”.
Falta de Transparência e Ameaça à Previdência
A ausência de documentos cruciais apenas aprofundou a crise de confiança. Max Maciel denunciou que relatórios fiscal e de risco não foram anexados ao Projeto de Lei, e que o investimento sequer constava na Lei Orçamentária Anual (LOA). A falta de transparência sugere que há algo a ser escondido do público e dos próprios legisladores.
A parlamentar Paula Belmonte trouxe à tona o risco direto para os servidores e aposentados do DF. Como o Iprev (Instituto de Previdência dos Servidores do Distrito Federal) detém 16% das ações do BRB, um eventual fracasso na aquisição significaria que “quem vai pagar são os aposentados e os servidores”. O dinheiro da previdência, que deveria garantir o futuro dos trabalhadores, está sendo colocado em uma aposta de alto risco.
Prioridades Invertidas em Meio ao Caos
A deputada Dayse Amarilio (PSB) questionou a prioridade do GDF em um momento de crise social. Ela expressou sua preocupação com a reunião secreta e a falta de discussão, contrastando o debate financeiro com a realidade da saúde pública:
“Enquanto pessoas estão morrendo nos hospitais, nós estamos discutindo a compra de um banco que tem fama de caloteiro no sistema financeiro e que a gente não sabe exatamente se vai ser bom ou não para o Distrito Federal.”
Enquanto alguns parlamentares agiram com responsabilidade e “olhos abertos”, a “maioria era base governista”, apoiada por uma estrutura de cargos que garante a submissão à vontade do Executivo.
O episódio na CLDF não é apenas um escândalo financeiro, mas um retrato da inversão de prioridades, onde o interesse de um banco privado parece ter mais peso do que a segurança financeira e o bem-estar da população do Distrito Federal.
Veja como votaram os deputados, nos dois turnos:
Chico Vigilante (PT): contra
Dayse Amarilio (PSB): contra
Doutora Jane (AGIR): a favor
Eduardo Pedrosa (União Brasil): a favor
Fábio Félix (PSOL): contra
Gabriel Magno (PT): contra
Hermeto (MDB): a favor
Iolando (MDB): a favor
Jaqueline Silva (AGIR): a favor
João Cardoso “Professor Auditor” (Avante): a favor
Jorge Vianna (PSD): a favor
Martins Machado (Republicanos): a favor
Max Maciel (PSOL): contra
Paula Belmonte (Cidadania): contra
Pastor Daniel de Castro (PP): a favor
Pepa (PP): a favor
Ricardo Vale (PT): contra
Robério Negreiros (PSD): a favor
Rogério Morro da Cruz (PMN): a favor
Roosevelt Vilela (PL): a favor
Thiago Manzoni (PL): a favor
Wellington Luiz (MDB): a favor
Os deputados Daniel Donizet (MDB) e Joaquim Roriz Neto (PL) estavam licenciados e não votaram.
